domingo, 14 de fevereiro de 2010

TIHUANA (outubro/2008)

Conte um pouquinho da história do Tihuana. Da banda, só eu sou daqui de São Paulo; todos os outros vieram do Rio de Janeiro. Nós acabamos nos conhecendo na Feira do Surf, que naquele ano tava rolando lá no Ibirapuera, há dez anos atrás.

Eu estava com outra banda lá fazendo um som. Nessa banda, nós tocávamos por hobby, porque todos nós estávamos sem banda então nós nos juntávamos para fazer um som. Então, essa banda não era uma coisa tão certa.

Foi aí que eu conheci o pessoal. Eles haviam vindo do Rio, e os quatro estavam morando juntos num apartamento em Santa Cecília e estavam aqui havia alguns meses, procurando um vocal pra montar uma banda.

Tudo foi muito rápido, porque logo que nós nos conhecemos, trocamos telefone e fomos para o estúdio fazer umas fitas-demo (naquela época era o K7 ainda), até que gravamos o nosso primeiro disco no final de 1999.

Tudo foi muito rápido: nos conhecermos, fazermos um repertório e conseguirmos uma gravadora. Nós nos conhecemos no início de 1999, e no final daquele mesmo ano nós já estávamos assinando com uma gravadora.

Eu e os caras da banda já estamos na estrada há mais de 20 anos e já tocamos em várias bandas. Nós costumamos dizer que, tudo aquilo que nós não tínhamos conseguido com as nossas bandas anteriores, nós conseguimos rapidamente com o Tihuana.

Quando nós cinco nos encontramos tudo rolou rapidinho.

De onde surgiu o nome Tihuana? Quando estávamos com a metade do nosso primeiro disco gravado (já havíamos gravado 6 faixas) ainda não tínhamos um nome pra banda. Até então, nós estávamos ensaiando e compondo, e não havíamos parado para pensar em colocar um nome na banda, até porque ainda não estávamos nem fazendo shows.

Mas, aí, quando começamos a gravar o disco, surgiu o problema do nome: nós íamos gravar um disco e ainda não havíamos dado nome à banda. Aí, durante a gravação do disco nós fizemos listas e mais listas de nomes. Nós nos encontrávamos todos os dias e cada um falava um nome, até que em uma dessas listas, surgiu o nome Tijuana (o nome da cidade). Aí quando nós chegamos a esse nome, a decisão foi unânime, foi impressionante: nós olhamos para o nome e falamos “É esse!”. O disco já estava com uma latinidade muito grande e nós tínhamos essa influência de Manu Chao e de algumas bandas latinas; então, até o nome ficou perfeito porque já remetia a alguma coisa latina. Então foi isso.

Nós escolhemos o nome e passamos num numerólogo para ver se o nome era legal. Nós estávamos em dúvida se escreveríamos Tihuana (com h) ou se manteríamos o nome Tijuana (com j) igual à cidade, porque com h dá a mesma sonoridade, mas fica diferente. Ele gostou e achou melhor ficar Tihuana (com h).

Como vocês escolhem o repertório dos discos de vocês? Sempre quando a gente começa a compor alguma coisa, é legal porque é uma novidade pra todos nós. Nós gostamos muito de inovar, então cada disco nosso é uma história. Nós gostamos de ter uma história diferente em cada disco então um disco é muito diferente do outro. Isso é muito bacana porque estamos sempre misturando sons e instrumentos diferentes. Então, é assim, a gente não chega e diz “vamos fazer um disco da seguinte forma”; nós vamos fazendo e vamos dando a cara pro disco conforme estamos fazendo a pré-produção desse disco.

Nós passamos horas e horas no estúdio para decidir o que será gravado, e por vezes nós gravamos, sei lá, 50 músicas para depois selecionarmos umas 10 músicas.

Então, é difícil montar um repertório pro disco, porque o disco começa a ter uma cara depois que você já está na quinta, sexta, sétima composição do disco. É aí que você começa a ver que ele tem uma cara. E as músicas que não têm a cara do disco, você já vai tirando ou vai dando uma lapidada. É assim que a gente trabalha. A gente vai compondo, vai pro estúdio, testa, experimenta, grava... se ficou bom, tudo bem, se não ficou, esquece!

Nós compomos bastante. Em média, lançamos um disco a cada ano e meio.

Você poderia falar um pouco da música “Tropa de Elite”? A música “Tropa de Elite” está naquela primeira fita-demo em K7 que nós fizemos em 1999! A música já estava lá há dez anos atrás em entrou no nosso primeiro disco que foi lançado em 2000. Inclusive, a “Tropa de Elite” tocou na rádio.

Dali em diante, sempre que nós passávamos por diferentes cidades, a gente se encontrava com um batalhão de polícia, exército, seguranças, e eles sempre vinham contar pra gente que a música cantada no pelotão deles era a “Tropa de Elite”. Todas essas milícias policiais se identificavam muito com a música e nós sempre ouvimos esses comentários ao longo desses anos.

Até que no início do ano passado, o José Padilha procurou a gente pois ele estava gravando algo que, até então era um documentário que ainda não tinha nome, mas que contava a história do BOP, e ele chegou até a gente justamente pelo BOP, que usava a nossa música nas operações deles – que foi algo que nós ficamos sabendo e foi uma surpresa pra gente! – e eles perguntaram se, pra gente seria interessante que a música fosse incluída no documentário. Nós achamos tudo isso muito legal, porque até então não havíamos tido um convite assim.

Essa foi uma novidade bacana pra gente. Aí, o que aconteceu em seguida foi uma loucura, porque nós ficamos sabendo que a nossa música estava encabeçando a trilha do filme, e que estava dando título ao filme. Nós não esperávamos por isso e eu acho que ninguém estava esperando isso – nem o José Padilha, nem o elenco (que nós tivemos o prazer de conhecer). Nós não esperávamos que o sucesso do filme fosse ser tão grande, pois ele acabou por marcar uma geração. E ter a nossa música junto marcou bastante também.

Na verdade, a música fala de nós mesmos. A “Tropa de Elite” conta a história do Tihuana logo que nós estávamos no início da banda, pois nós estávamos chegando como uma banda nova. Então, a Tropa de Elite que nós falamos na música, somos nós mesmos! Mas, rolou uma identificação tão perfeita entre a música e o filme, que quando eu vi o filme eu não acreditei, porque a música parece que foi feita para o filme! Tanto é que, pelo menos 90% das pessoas acham que nós fizemos a música para o filme! Na verdade, o que acontece é que a música tem um duplo sentido que coube perfeitamente no contexto do filme, mas ela é uma música muito “pra cima” e cheia de energia, e não uma música fascista, como alguns pensaram ser. A música tem uma pegada meio “grito de guerra”, “canto de exército”, “grito de torcida”.

Tudo isso que aconteceu com a música foi muito legal e está sendo muito legal pra gente até agora. Nós ainda estamos colhendo os frutos!

Fale um pouquinho sobre o primeiro DVD de vocês, o Tropa de Elite. O DVD ficou muito bacana! Ele tá muito legal! Nós gravamos aqui no Kazebre em São Paulo, só que nós fizemos o show na parte externa (no estacionamento), porque nós queríamos fazer um palco grandão com várias câmeras, não daria para fazer isso lá dentro, porque lá o palco é pequeno, o teto é baixo... então, não ia rolar legal. Então nós fizemos lá fora, e fizemos uma produção muito grande. O show foi feito em 23 de dezembro de 2007, e tinha mais de cinco mil fãs assistindo. Nós recebemos vários convidados, o Zeider do “Planta & Raiz”, o Di Ferrero e o Gee Rocha do NXZERO, o Dj J F, Laércio da Costa, Ivy, André Ramiro e os MCs Junior e Leonardo (que são os autores do verdadeiro Rap das Armas. Aliás, a versão do Rap das Armas que nós fizemos ficou uma versão total rock, diferente daquela que o público conhece).

O CD Tropa de Elite ao vivo vem com 14 faixas, enquanto que o DVD tem 16, e vem com um extra que nós fizemos que é um making of que é como um mini “reality show” que mostra a gente na estrada. Nesses dias, nós fizemos 7 shows em cinco dias. Nesses cinco dias aconteceu tudo o que poderia acontecer com uma banda em 10 anos de carreira! Quebrar ônibus, chuva, uns perrengues na estrada... é bem bacana de assistir, porque a galera acaba vendo a personalidade de cada um da banda. E aconselho a galera a assistir primeiro o making of e depois o show, porque o show é uma continuação de tudo aquilo que acontece no making of. Nós apelidamos o making of de “Medo e Delírio na Estrada”, que é algo que quando a galera vir, vai entender do que eu estou falando! O nome vem de uma brincadeira que nós fizemos com aquele “Medo e Delírio em Las Vegas”.

Existe alguma situação interessante relacionada a fãs? O público do Tihuana já mudou muito. A galera que acompanhava a gente no início já mudou: agora o pessoal está mais velho. A galera que está chegando agora, conhece mais o “Tropa de Elite”, não conhece muita coisa e está começando a conhecer a gente agora. No começo, teve muito daquele negócio de fã querendo arrancar a nossa roupa, muita calcinha jogada no palco, esse tipo de coisa.

Teve uma vez que uma menina invadiu o meu quarto! Estava tudo escuro, eu estava dormindo e a porta não estava trancada. Ela entrou, eu acorde, vi um vulto e levei um susto, porque pensei que talvez fosse um assalto, mas aí o segurança veio e tirou ela do quarto. Mas isso foi há 9 anos atrás. Agora as coisas são mais tranqüilas pra gente!

Vocês já estão pensando no próximo trabalho? Então, nós gravamos o DVD que na verdade gira em torno da nossa discografia e não tem nenhuma música inédita. Agora nós já estamos preparando um disco novo para o ano que vem, para o qual nós já temos algumas composições prontas. Então, ano que vem sai um álbum de inéditas do Tihuana. Não podemos parar nunca! Se pararmos, acabou tudo!

Durante esses 10 anos de trajetória, um acontecimento que marcou muito a gente foi esse lance do filme “Tropa de Elite”. Foi algo tão grande que nós ainda não conseguimos sequer ter noção do tamanho de tudo o que aconteceu. A repercussão foi mundial, então as pessoas conhecem em vários países da América Latina, na Europa, no Japão... em vários lugares onde a galera curtiu o filme. Isso está sendo bom pra caramba pra gente.

Um comentário:

  1. Olá Bruna!
    Sabe se já está pronto ou saiu o disco novo dos caras?

    Bem legal a entrevista. Esse mix latino com música pesada do Tihuana é mesmo muito legal.

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