terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

ROBERTA POLITO (fevereiro/2010)

Conte um pouco sobre a sua carreira e porquê começou a escrever. “Amores Incertos” é o seu primeiro trabalho? Eu sou arquiteta, formada pelo Mackenzie há 12 anos, e também trabalho com meu pai, Reinaldo Polito.

Estou sempre fazendo alguma coisa diferente na minha vida. Eu não consigo ficar muito tempo fazendo só a mesma coisa. Sou também designer de jóias. Trabalhei com isso durante alguns anos, depois que minha filha Letícia nasceu (ela tem 10 anos, quase 11). Eu aprendi a descobrir outras aptidões por não querer mais passar um dia inteiro num escritório de arquitetura. Eu queria cuidar da minha filha, mas também me manter no mercado de trabalho. Por isso, além de projetos que eu pegava para fazer, fui diversificando minhas atividades.

Pra mim é normal a cada ano descobrir alguma atividade diferente. Já fiz até curso de moda. Há uma ligação entre essas tantas atividades, que é a criação. Sei que um profissional assim pode não ser muito valorizado, por não focar em um tema, mas pra mim é o oposto: uma área enriquece a outra, na minha opinião. Como lido com pessoas, em qualquer dessas áreas, consigo entender um pouco melhor as diferenças.

No ano passado redescobri o prazer de escrever e “Amores Incertos” é meu primeiro trabalho publicado. Acho que foi essa diversidade de experiência que me ajudou a montar personagens com personalidades tão variadas.

Na infância, fui uma menina muito comunicativa. Na adolescência, me retraí. Nessa fase comecei a escrever muito e isso me ajudou a me conhecer melhor. Acho que era como uma terapia mesmo. Quem lia o que eu escrevia me incentivava a escrever sempre, mas eu nem ouvia, pois o que eu queria mesmo era escrever para mim.

Tudo começou com uma vontade enorme de colocar alguma coisa no papel. Comecei no inicio do ano passado com alguns contos. A produção foi grande em pouco tempo. Os textos circularam pela família, até que chegou nas mãos do meu pai. Ele é uma pessoa que, quando acredita no que vê, nos estimula a seguir em frente. Foi o que aconteceu. Meus textos chegaram até um editor, que foi também um grande incentivador, me indicando leituras para eu me aprimorar. O trabalho foi evoluindo e virou um romance. Era apenas um exercício, até o convite deste editor, Roberto Araújo, de publicar o livro. Foi mais um desafio que adorei aceitar.

Fale um pouco sobre o seu livro “Amores Incertos”. "Amores Incertos" fala das dúvidas no amor, mas mostra também os lugares que, na minha opinião, são os mais românticos da Europa, principalmente na região da Toscana, na Itália, com descrições de alguns cenários das cidades e de obras de arte.

Marina Spinelli é a personagem principal. Casada com Edu e mãe do Pedro, é arteterapeuta e vai para Florença estudar um pouco da vida dos mais importantes pintores, escultores e arquitetos. Lá ela conhece Luca, seu professor. A diversidade de personagens é grande, pois Marina tem vários pacientes, cada um com questões bem particulares.

Marina passa por vários desafios pessoais e profissionais no livro, inclusive o de segurar seu grande amor, que além de passar por problemas próprios do casal, sofre ameaças e interferências externas.

Por que você decidiu escrever sobre o amor? Como você vê o amor nos dias de hoje? O que você acha que mudou nas relações entre casais? O tema do livro é o amor, pois eu estava num momento de reflexão sobre o assunto. É incrível como às vezes não enxergamos o que está tão evidente. No romance há pontos de vista diferentes sobre o que é o amor que une verdadeiramente as pessoas e a interferência de fatores externos num relacionamento, como problemas profissionais, amores do passado, ilusões e paixões.

Acho que é preciso ter coragem para sair de um relacionamento fracassado, já que as relações entre casais não dependem mais tanto de fatores que determinem a sobrevivência financeira da família. As incertezas são outras. Um filho, por exemplo, ainda pode manter unido um casal que não se ama. O livro aborda também a gravidez não planejada e suas consequências. Este fato ainda acontece muito, com mulheres de vários níveis sociais, apesar de estarmos no século XXI. Na história que escrevi, as dúvidas sobre esse assunto são mais do pai da criança e não da mãe, que é muito segura da maioria das suas decisões.

A relação pode ser saudável ou de dependência emocional. Eu penso que é preciso sempre estar atenta e não deixar que o relacionamento passe a não ser "de verdade". O amor pode fazer bem, mas pode fazer muito mal se não for um sentimento que traga uma liberdade de ser você mesmo, sem dependências excessivas. Na minha opinião, para se ter um amor "parceiro" é necessário se conhecer bem, antes de qualquer coisa. A Marina, personagem do livro, busca um relacionamento assim. Já a outra personagem vê tudo isso de outro jeito, de uma forma mais obsessiva e egoísta.

No site da Editora Europa encontramos o release do livro que diz: “Amores Incertos, retrata o mundo moderno em que mulheres assumem novos papéis, enquanto homens se mostram mais inseguros". Na sua opinião, a que se deve essa insegurança dos homens? Qual o impacto dessas novas escolhas de vida das mulheres na família, na relação com o marido e com os filhos? A insegurança dos homens de hoje é a mesma das mulheres, por estarmos no mesmo patamar na relação. A diferença é essa. A maioria das mulheres atuais, não pensa muito na estabilidade financeira e emocional, como já aconteceu com nossas mães e avós. Temos outras inseguranças, mas podemos pensar de outra forma e buscarmos conseguir relacionamentos mais verdadeiros e transparentes.

São mostrados no livro dilemas das prioridades da vida de uma mulher atual, como cuidar da família e trabalhar. Uma das personagens tem esta questão no livro e seu marido é inseguro profissional e emocionalmente.

Com essa maior facilidade de poder decidir quem queremos ao nosso lado e não de quem precisamos para poder sobreviver, outras opções acabam se abrindo para uma mulher que apenas precisa ser feliz.

Os papéis, na minha opinião, não são invertidos, mas sim equilibrados e as responsabilidades são muito parecidas. Criar um filho, evoluir profissionalmente, estar num relacionamento de uma forma honesta, leal e verdadeira é tarefa para homens e mulheres. Isso é exposto de uma forma muito simples e natural no livro e é apenas uma das várias questões das personagens. Há personagens muito seguras e determinadas e outras mais frágeis. É como se estivéssemos lendo uma história parecida com a nossa ou com a de alguém que já conhecemos.

Não escrevi querendo mostrar as diferenças dos tempos atuais e de uma época mais distante, mas sim retratar de uma forma natural a vida de pessoas fictícias, mas que poderiam ser reais.

Você pretende continuar escrevendo? Já estou escrevendo o segundo livro. O editor pediu que eu continuasse nessa linha de conflitos sentimentais. O tema do próximo é "casar ou não casar e descasar ou não descasar". Só sei o tema, pois o título ainda é muito provisório.

3 comentários:

  1. Quem ler esta entrevista vai ficar estimulado a ler o livro. A Roberta contou aqui o que está nas entrelinhas da obra. foi muito boa essa conversa.

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  2. Eu já estou ansioso pra começar a ler o segundo livro da Roberta, pois eu já casei 4 vezes e já separei 3. Por enquanto, o casamento está ganhando... :-)

    Brincadeiras à parte, registro que ler um livro é uma experiência melhorada quando se conhece o autor pessoalmente ou quando se lê uma entrevista. A leitura vira um bate-papo.

    Abraços do Pepe

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  3. AINDA NÃO LI O LIVRO DA MINHA AMIGA ROBERTA AMORES INCERTOS...MAIS ESTOU MUITO CURIOSA PARA LER! E NEM BEM LI O AMORES INCERTOS JÁ QUERO LER O PRÓXIMO AFFFFFFF A ROBERTA É UMA PESSOA MUITO QUERIDA PRA MIM!! ADOREI ESTA ENTREVISTA!!
    BJS
    ROSE

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