domingo, 14 de fevereiro de 2010

ROBERTO SHINYASHIKI (agosto/2008)

Fale um pouco sobre a sua trajetória profissional. Sou palestrante há quase 30 anos, comecei dando palestras sobre análise transacional na América Latina, mas assumi mesmo essa carreira após o lançamento do meu primeiro livro – A Carícia Essencial – e a inauguração da Editora Gente, da qual sou fundador. Minha formação é em psiquiatria, e desta forma, o que mais sei fazer é entender de gente. Sou apaixonado pelo meu trabalho, e poderia dizer que tal paixão também me inspira a estar sempre inovando e aprendendo. Palestrar é uma forma de viabilizar isso. Em uma palestra, quando encaro os diretores, gerentes e colaboradores de uma empresa, tenho a oportunidade de exercitar minha criatividade, dividir minhas experiências e conhecimentos, e crescer com os participantes. E para tornar-me um palestrante realmente qualificado procurei não ser reconhecido somente como um “especialista em gente”; estudei muito sobre o mundo dos negócios. Queria ser uma referência como “especialista de negócios”. Estudei nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e, também conquistei o título de doutor pela FEA/USP.


Como surgiu o seu interesse em escrever livros? Eu procuro diversificar os temas e estou em constante troca de informações com as pessoas, assim escrevo livros que falam direto com o meu leitor. Eu parto do princípio de que uma vez que existimos, devemos fazer deste tempo o melhor possível e, o impossível a gente tenta. Todo ser humano busca a sua felicidade. Entretanto muitos não sabem que rumo seguir. Minha missão é ajudar essas pessoas a encontrarem a sua felicidade e seguirem seus caminhos rumo a satisfação profissional e pessoal.

Você poderia falar um pouco sobre a importância do estudo na vida das pessoas? Evolua sempre, recicle-se. O problema não é o seu objetivo, mas sim a maneira como você procura alcançá-lo. A sua vida muda quando você muda! Se você quer que os seus resultados mudem, você tem que mudar antes. A sua capacidade determina o tamanho das suas conquistas. Por isso, o campeão adora vitórias, não para receber elogios, mas para conhecer a sua força. Estar vivo é estar em permanente evolução. Por isso, deixe o passado para trás, seja ele feito de vitórias ou derrotas. No caso das derrotas, você precisa analisar seus erros, fazer um novo projeto, e tentar mudar os rumos. Quanto às vitórias, elas existem para serem comemoradas, mas jamais devem estimular a acomodação, do tipo "Já ganhei mesmo, agora posso descansar". O verdadeiro vencedor nunca desiste e nunca se cansa. Para fazer novas conquistas, é preciso deixar para trás as velhas, que já não são mais úteis, e seguir em frente.

Qual é o segredo dos campeões? São quatro os segredos dos campeões: objetivo bem definido, estratégia clara, trabalho consistente e competência superior. O objetivo bem definido é saber focar, ser insistente e persistente. A estratégia clara trata-se de definir uma tática para transformar sua meta em resultados. Não basta agir por impulso ou desanimar quando os resultados não são convincentes. É preciso ter a noção do ritmo de suas realizações e não ficar dando voltas sem rumo, pois não tardará para que surjam problemas durante essa jornada. O trabalho consistente é atuar com alegria e comprometimento. Ter prazer em acordar e ir para a empresa, pois trabalhar é realizar sua missão de vida. A competência superior é preciso realizar suas metas de vida; o vencedor tem de ser capaz de entregar os resultados e, principalmente, ter a capacidade de realizar seus projetos profissionais. Cada um de nós precisa ver o que precisa ser feito para que seus esforços sejam transformados em resultados. Sempre podemos evoluir e criar recursos necessários para termos sucesso.

Por que é importante sonhar e lutar por um sonho? Eu acredito muito em nossos sonhos, creio que dentro do coração humano sempre existiu uma força interior que lhe permite sonhar. O homem tem uma grande capacidade de imaginar e realizar suas obras. Não importa de onde você veio nem onde você está. O que vale é aonde você quer chegar. Não espere que os outros cumpram a obrigação que é sua. Sonhe, mas não aguarde que os outros realizem seus sonhos. Corra você atrás deles. Enquanto os perdedores se acomodam e pensam que um sonho é muito para eles, os campeões se perguntam o que precisam fazer para realizá-los.

Conte um pouquinho sobre a época em que você morava em São Vicente e de como você realizou um sonho. Nasci em São Vicente, mas passei minha infância e adolescência em Santos, fui um jovem normal, pode-se dizer. Com todas aquelas dúvidas e incertezas de quem ainda não sabe o que quer da vida, com as manias de achar que era dono do meu nariz, que tudo o que era ruim só acontecia com os outros e por causa dos outros. Como para muitos jovens rebeldes da minha época, a música parecia ser a única alternativa razoável. Ter uma banda, tocar em um conjunto, era uma forma de mostrar ao mundo o meu modo de ser, sem ter de dar explicações a quem quer que fosse − pelo menos era assim que eu imaginava. Decidi ser músico. Em seguida, comecei a tocar em conjuntos de baile e, passado um ano, fui tocar na noite, nos bares de Santos. Naquela época também houve uma pessoa muito especial: minha psicoterapeuta, a Doutora Isabel. Ela foi sensacional como orientadora. Minha admiração por ela era tão grande que comecei a pensar em fazer para outras pessoas todo o bem que ela me fazia. Foi ela a principal responsável por eu decidir cursar Medicina e me tornar um psiquiatra. Em seis meses minha vida se transformou radicalmente. Larguei a “carreira” de músico na noite, e entrei na faculdade de Medicina. As pessoas ficavam surpresas quando me encontravam e descobriam que eu estava estudando para ser médico. De músico rebelde para médico. Mas eu assumi o curso de Medicina com responsabilidade e, em pouco tempo, especializei-me em Psiquiatria. Apaixonei-me pelo trabalho. Minha realidade mudou da água para o vinho. Passei a valorizar a importância de ter um motivo para lutar. Ajudar as pessoas a encontrar seu caminho tornou-se a razão do meu trabalho.

Qual a importância de fazer sempre algo a mais e de não ser “o medíocre”? Muitas vezes a acomodação com a vida que temos significa que nos acostumamos com pouco. É a adaptação aos pequenos sofrimentos diários. É fechar os olhos para as mudanças possíveis com preguiça de correr riscos. É ficar na confortável e segura rotina que criamos em vez de partir em busca de algo mais. Quem foi contaminado pelo vírus da acomodação sempre deixa para amanhã o que poderia fazer hoje. Arriscar é, portanto, preciso. Acordar para o mundo é preciso. Encante-se com as portas que se abrem à frente a cada novidade que surge em sua vida. Não permita que a porta se feche antes que você tenha visto o que havia do outro lado. Não fique sentado esperando a morte chegar. As pessoas que ficam assim começam, depois de alguns anos, a sentir um enorme vazio no peito. Só então saem desse estado permanente de acomodação, acordam para o mundo e constatam, decepcionadas, que não criaram nada, não arriscaram nada, não aproveitaram nada. O problema é que isso costuma acontecer tarde demais. Não deixe a acomodação tomar conta de sua vida, por isso, dê a si mesmo a oportunidade de aproveitar a vida e nunca a despreze. Lembre-se: quem espera desespera. Se você perceber que está esperando a morte chegar, é hora de sair para o tudo ou nada, e mostrar que seu coração ainda pulsa.

Roberto, fale um pouco sobre realização pessoal / profissional. O segredo para a gente ter sucesso na vida não está no talento que temos, mas na nossa capacidade de trabalhar para suprir a nossa falta de talento. Se tivermos pique para nos dedicarmos aos nossos projetos, com todo o nosso coração, vamos conseguir chegar lá e encontraremos muitas pessoas dispostas a nos ajudar durante a construção desse caminho. Na verdade, eu tive várias pessoas que contribuíram para a minha trajetória profissional. Desde meu pai e minha mãe, que sempre foram muito batalhadores, até professores da escola de medicina, terapeutas e mestres indianos.

Comente sobre a relação entre pai e filhos. Eu, que tenho cinco filhos, não consigo imaginar um tesouro maior do que esse. Infelizmente, vemos a maioria das pessoas gastar a vida na ânsia de acumular riquezas materiais, aplausos, sucesso, status e se esquecem dos filhos. No entanto, você sabe que nenhum tesouro do mundo compensa o distanciamento dos filhos nem a destruição da família. Se, para você, felicidade é sinônimo de ter filhos felizes, é fundamental que eles se tornem realmente prioridade em sua vida. Hoje em dia, muitas pessoas dizem que os filhos são importantes, que os amam muito e se sacrificam para proporcionar a eles o que há de melhor em educação, uma vida confortável e segurança econômica no futuro. O que tenho visto, porém, são pessoas que chegam em casa irritadas depois do trabalho, com pouquíssima disponibilidade para passar bons momentos com a família. São pessoas que dão conforto, bens materiais e uma série de coisas boas a seus filhos, mas são presentes embrulhados em angústia. E, por acréscimo, provocam nos filhos a culpa de ver os pais trabalharem tanto para lhes dar tudo. Gostaria que, neste momento, os pais refletissem a respeito do que realmente estão fazendo para colocar seu filho, ou seus filhos, como prioridade de vida. Eu imagino que trabalham muito e, portanto, não lhes sobra tempo para mais nada. Mas vocês não podem mais usar isso como desculpa. Talvez priorizarem sua família suponha pagar um preço, que pode ser menos dinheiro, menos status, comprar brinquedos mais simples, jantar fora com menos freqüência, não ter tantas roupas de grifes famosas, e até mesmo deixar uma herança menor para eles. Mas com certeza vocês se sentirão mais realizados como seres humanos. Dinheiro sem felicidade é o começo de uma vida sem sentido.

Na sua opinião, qual a melhor herança que um pai pode deixar para o seu filho? O caráter e a capacidade de pedir perdão. Há pessoas que nunca se permitem reconhecer um erro: têm uma auto-imagem de perfeição. Pensam que os outros não irão mais valorizá-las nem respeitá-las se admitirem uma falha pessoal. Essa postura acaba prejudicando a comunicação, pois geralmente a pessoa espera que o outro assuma um erro que na verdade é seu. Há quem, percebendo uma situação tensa, pede desculpas para ver se o outro muda de assunto. Não o faz por arrependimento, mas como recurso estratégico para pôr fim à discussão, o que reflete simplesmente uma tática para encerrar a conversa e não se comprometer com a mudança. Reconhecer o próprio erro e pedir desculpas com a disposição verdadeira de corrigir-se é uma demonstração de humildade e de valorização do outro. É ter consciência do mal-estar que sua conduta provoca no outro e assumir o compromisso de agir de modo diferente na próxima vez.

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