domingo, 17 de outubro de 2010

Novos trabalhos

Olá,

Tenho me dedicado a novos trabalhos, então não irei postar novas entrevistas nesta página. Mas, aqui você encontra algumas das entrevistas que fiz entre 2008 e 2010. Todas são muito legais, vale a pena ler!

Bjs
Bruna Fonte
obarquinhovai.wordpress.com

segunda-feira, 17 de maio de 2010

NANDO PRADO (maio/2010)

Você é ator, músico e artista plástico. Como surgiu o seu interesse pela arte? A música sempre foi a minha primeira e grande paixão. Comecei tocando piano aos oito anos e sax aos doze. Estudei com tamanha frequência que aos catorze já estava dando aula em uma escola. Logo em seguida pintou a banda que na época se chamava “CLÔ. Aí começa minha história com o teatro. Comecei a estudar teatro com o objetivo de me aperfeiçoar como intérprete para a banda. Não pensava em me tornar ator, porém em um determinado momento as coisas começaram a se “dissolver”, pois os caras da banda se viram pressionados a correr atrás de faculdade, trabalho etc... Nessa época o mercado de teatro musical estava começando aqui no Brasil. Não tínhamos tradição, portanto quase não havia atores com experiência em música, nem o contrário. Foi a minha sorte, pois eu era músico profissional e tinha experiência com teatro.

Você já atuou em grandes produções como "O Fantasma da Ópera", "A Bela e a Fera" e "Miss Saigon". Conte um pouco sobre a sua experiência no teatro. Passei no teste que fiz para o musical “A ópera do malandro” e tudo o que aconteceu em seguida representou um degrau a mais na minha carreira: em "Vitor ou Vitória" tive meu primeiro solo, em "A bela e a fera" substituí Daniel Boaventura como Gaston (meu primeiro grande personagem), com "O Fantasma da Ópera" tive minha primeira grande conquista ao ser escolhido para protagonizar (dessa vez desde o início) o personagem Raoul. Quando fui à Broadway em 2000 para pesquisar, o musical que mais gostei foi "Miss Saigon". Então, poder encenar essa produção foi uma conquista em que havia um sonho envolvido, por isso foi tão especial. Gostaria de atuar no musical “Jekyll and Hide”, é o sonho de todo ator que faz musicas.

Fale um pouco sobre o seu trabalho na Banda "Donna John". Após um período separados, decidimos voltar pra valer com novo nome e uma nova proposta. Temos um projeto totalmente inovador que vem sendo desenvolvido há 4 anos e seria lançado agora, mas decidimos esperar só mais um pouquinho porque agora estou atuando em "O médico e o monstro".

Como você vê a cultura e a arte no Brasil atualmente? O mercado da música, na minha opinião, não vai muito bem não! Mas de repente lançam uma Maria Gadú nesse momento tão escasso de coisas de qualidade e a gente vê que tem coisas boas surgindo por aí. Aliás, acho que há muita gente fazendo trabalho de qualidade, o problema é que o palheiro está infinitamente maior e fica bem mais difícil de se achar a agulha...

Falei um pouco sobre o seu trabalho como artista plástico. Não consigo ficar longe da arte muito tempo, então acabo usando as artes plásticas como higiene mental. Cheguei a trabalhar com loja durante muito tempo, mas prefiro não ser cobrado por isso. Parece que perde a magia!

O futuro a Deus pertence, mas se ele quiser uma opinião eu voto na minha banda...

CRIS DELANNO (maio/2010)

Fale um pouquinho sobre você e a música: como surgiu o seu interesse pela música? Quais foram os primeiros contatos que você teve com a música? Bem, tive contato com a música muito cedo, em casa, pela minha mãe que sempre gostou de cantar e meu pai que sempre comprava os vinis de MPB. Sempre tive um interesse muito grande pela música e aos cinco anos entrei para o Coral Infantil do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, cantando óperas. Fiquei nessa até os catorze anos, quando fiquei "velha", porque já estava bem grandinha para cantar em um Coral Infantil!

Continuei fazendo aulas particulares de canto e estudando na escola, como "todo mundo". Entrei pra faculdade de Administração na UERJ quado encontrei um amigo que disse que estava montando uma banda e me perguntou se eu gostaria de cantar com ele. Eu aceitei na hora, pois já tinha uma boa experiência cantando em grupos. Nessa época eu tinha dezessete anos.

Conte um pouquinho sobre quando você conheceu o Menescal, os trabalhos que fizeram juntos e a importância que ele teve na sua carreira. Conheci o Menescal em uma gravação. Uma cantora acordou sem voz e eles me chamaram pra substituí-la. Fui correndo fazer a gravação que era para um dos discos da série "Aquarela Brasileira" do Emílio Santiago que o Menescal produziu. Esse encontro rendeu alguns CDs que fiz produzidos pelo Menesca como: "Cris em Tom Maior", "Newton Mendonça - Caminhos Cruzados", "Nara- Uma Senhora Opinião".

Mais tarde, durante uma turnê com o BossaCucaNova começamos a esboçar um repertório que tinha um pouco de tudo (passávamos muitas horas viajando, esperando o início do show, então aproveitamos os momentos livres para pensar nesse projeto). O repertório é bem variado e tem muito a ver com a viagem, por exemplo, quando estávamos na Itália, lembramos da música "Estate", quando estávamos nos EUA, lembramos da música "'S Wonderful" e tal. Com esse repertório, fizemos o CD "Eu e Cris", que é fruto de uma amizade e companheirismo de vários anos e de muitas horas esperando nas salas de embarque...

Fale um pouco sobre o seu trabalho junto do BossaCucaNova. Conheço o Alex Moreira e o Márcio Menescal há mais de vinte anos. Depois conheci o Marcelinho da Lua.

O Alex foi quem fez a gravou, mixou e masterizou meu primeiro CD, "Cris em Tom Maior" e, depois, eles tiraram uma música desse CD (a música "Felicidade") e fizeram um remix. Quando vi, simplesmente adorei! Depois eles me chamaram para gravar com eles o segundo álbum do grupo e a partir de então estou, sempre que posso, fazendo shows com eles. Já viajamos o mundo inteiro levando a Música Brasileira!

Você está trabalhando em algum projeto no momento? Sim! Estou preparando um CD autoral, com músicas que fiz com vários parceiros: tem uma bossa bolero com a Joyce, uma bossa com o Menescal, dois sambas com o Alex Moreira, uma valsa com Gustavo Black Alien, uma salsa com George Israel, uma música bem no estilo do Donato que fiz com Donato e com Alex. Estamos preparando este repertório com o maior carinho. Já gravamos quatro músicas mas ainda vão acontecer muitas coisas até o CD ficar pronto, pois tem algumas músicas que ainda precisam "amadurecer".

Fale um pouco sobre o seu livro. Escrevi um cd-livro sobre técnica vocal (acabamos de lançar a terceira edição) pela Editora "Irmãos Vitale". É um livro bem legal pra iniciantes e cantores de chuveiro!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

MALLU MAGALHÃES (fevereiro/2010)

Conte um pouco sobre como surgiu o seu interesse pela música. Qual a influência que o seu pai teve na sua carreira? Papai tocava vilão. Sempre de brincadeira. Mas sabe como é, você é pequeno, calça os sapatos do pai, experimenta os óculos, o violão. É. Eu experimentei a música. Papai tocava-me Black Bird (Beatles) e também Leãozinho (Caetano Veloso). Mas o que vem de dentro é assim: você acha um jeito de ser quem você é. Imitava papai e assim foi: entrei numas aulinhas de violão (já parei...) e fui experimentando novos instrumentos. Aí pronto: corri atrás dos LPs na casa de vovô e nas livrarias os CDs e livros. A música me fez apaixonar por esse mundo fascinante que é ... a música!

Fale um pouco sobre a expressão “Tchubaruba”. Qual é o significado que essa expressão tem para você? De onde surgiu a idéia de criar essa palavra? A palavra Tchubaruba, criada por mim aos meus 13 anos, é um conjunto de sentimentos positivos e confortáveis. É um pouco difícil traduzir ou dilacerar o termo, em busca de um único significado. É o bem estar no ser. Não foi proposital a criação de tal, mas sim natural e intuitiva, é o que coube na métrica e na sonoridade da canção que escrevia e, pensando na dita junção de conceitos, saiu-me uma combinação de fonemas, sílabas de dentro de mim.

Como você se sente mais à vontade para compor em português ou inglês? Me é tão natural e confortável escrever em português quanto em inglês.

Fale um pouco sobre o seu álbum lançado em 2009. Você incluiu diversas sonoridades diferentes, como o samba e o reggae. Quais as influências que você teve para essas composições? Mergulhei em novas influências e fui inspirada em novas leituras, movida a uma paixão fervente e brilhante. Tive, como resultado, um álbum eclético e de sinceridade enorme, sem polimento ou conserto; torto, verdadeiro, humano, errante, errada, eu. Misturei o que me tocava em Vinícius (de Moraes) junto ao que me balançava em Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso e o que me fez chegar em mim como mulher, Nara Leão e Eliete Negreiros.

Inicialmente você usou o MySpace para mostrar o seu trabalho. Como você vê os novos meios que possibilitam a um artista desconhecido divulgar a sua arte? A partir do momento que o veículo internet para a arte vem cada vez mais crescendo no meio alternativo, nada como usá-la como aliada, renovando os princípios em praticidade, sem perder o velho físico.

Conte um pouco como é a sensação de ter o seu trabalho reconhecido pelo público e ter conquistado o seu espaço no cenário musical brasileiro. O pessoal conhece o som.. meu trabalho. Isso é bom. Eles me aceitam. Nas ruas não tenho problemas. O reconhecimento não é grande a ponto de incomodar. Nem sei se incomodaria se fosse maior, por isso não sei direito como medir o tamanho.

O que mudou na sua vida depois que as pessoas passaram a te conhecer? Ah, na escola é bom, assim, o pessoal respeita, é muito legal. Mas é meio estranho andar e as pessoas olharem diferente para você. Mas não estou no ponto de ser fortemente 'assediada'.. hehe

Você tem uma agenda muito cheia. Como você concilia estudos e carreira? Conciliar os dois não é fácil.. mas acho que a vida é isso. As coisas mudam e se você tiver um grande sonho, tem de mudar também, mas nunca deixar de ser você. Por exemplo: ando meio sem tempo desde que tudo isso começou, mas sempre há um jeito de arranjar uma deixa para tocar, pintar e fazer a lição de casa.

Você já tem novos projetos em andamento? Divulgar o CD e fazer muitos shows.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

ROBERTA POLITO (fevereiro/2010)

Conte um pouco sobre a sua carreira e porquê começou a escrever. “Amores Incertos” é o seu primeiro trabalho? Eu sou arquiteta, formada pelo Mackenzie há 12 anos, e também trabalho com meu pai, Reinaldo Polito.

Estou sempre fazendo alguma coisa diferente na minha vida. Eu não consigo ficar muito tempo fazendo só a mesma coisa. Sou também designer de jóias. Trabalhei com isso durante alguns anos, depois que minha filha Letícia nasceu (ela tem 10 anos, quase 11). Eu aprendi a descobrir outras aptidões por não querer mais passar um dia inteiro num escritório de arquitetura. Eu queria cuidar da minha filha, mas também me manter no mercado de trabalho. Por isso, além de projetos que eu pegava para fazer, fui diversificando minhas atividades.

Pra mim é normal a cada ano descobrir alguma atividade diferente. Já fiz até curso de moda. Há uma ligação entre essas tantas atividades, que é a criação. Sei que um profissional assim pode não ser muito valorizado, por não focar em um tema, mas pra mim é o oposto: uma área enriquece a outra, na minha opinião. Como lido com pessoas, em qualquer dessas áreas, consigo entender um pouco melhor as diferenças.

No ano passado redescobri o prazer de escrever e “Amores Incertos” é meu primeiro trabalho publicado. Acho que foi essa diversidade de experiência que me ajudou a montar personagens com personalidades tão variadas.

Na infância, fui uma menina muito comunicativa. Na adolescência, me retraí. Nessa fase comecei a escrever muito e isso me ajudou a me conhecer melhor. Acho que era como uma terapia mesmo. Quem lia o que eu escrevia me incentivava a escrever sempre, mas eu nem ouvia, pois o que eu queria mesmo era escrever para mim.

Tudo começou com uma vontade enorme de colocar alguma coisa no papel. Comecei no inicio do ano passado com alguns contos. A produção foi grande em pouco tempo. Os textos circularam pela família, até que chegou nas mãos do meu pai. Ele é uma pessoa que, quando acredita no que vê, nos estimula a seguir em frente. Foi o que aconteceu. Meus textos chegaram até um editor, que foi também um grande incentivador, me indicando leituras para eu me aprimorar. O trabalho foi evoluindo e virou um romance. Era apenas um exercício, até o convite deste editor, Roberto Araújo, de publicar o livro. Foi mais um desafio que adorei aceitar.

Fale um pouco sobre o seu livro “Amores Incertos”. "Amores Incertos" fala das dúvidas no amor, mas mostra também os lugares que, na minha opinião, são os mais românticos da Europa, principalmente na região da Toscana, na Itália, com descrições de alguns cenários das cidades e de obras de arte.

Marina Spinelli é a personagem principal. Casada com Edu e mãe do Pedro, é arteterapeuta e vai para Florença estudar um pouco da vida dos mais importantes pintores, escultores e arquitetos. Lá ela conhece Luca, seu professor. A diversidade de personagens é grande, pois Marina tem vários pacientes, cada um com questões bem particulares.

Marina passa por vários desafios pessoais e profissionais no livro, inclusive o de segurar seu grande amor, que além de passar por problemas próprios do casal, sofre ameaças e interferências externas.

Por que você decidiu escrever sobre o amor? Como você vê o amor nos dias de hoje? O que você acha que mudou nas relações entre casais? O tema do livro é o amor, pois eu estava num momento de reflexão sobre o assunto. É incrível como às vezes não enxergamos o que está tão evidente. No romance há pontos de vista diferentes sobre o que é o amor que une verdadeiramente as pessoas e a interferência de fatores externos num relacionamento, como problemas profissionais, amores do passado, ilusões e paixões.

Acho que é preciso ter coragem para sair de um relacionamento fracassado, já que as relações entre casais não dependem mais tanto de fatores que determinem a sobrevivência financeira da família. As incertezas são outras. Um filho, por exemplo, ainda pode manter unido um casal que não se ama. O livro aborda também a gravidez não planejada e suas consequências. Este fato ainda acontece muito, com mulheres de vários níveis sociais, apesar de estarmos no século XXI. Na história que escrevi, as dúvidas sobre esse assunto são mais do pai da criança e não da mãe, que é muito segura da maioria das suas decisões.

A relação pode ser saudável ou de dependência emocional. Eu penso que é preciso sempre estar atenta e não deixar que o relacionamento passe a não ser "de verdade". O amor pode fazer bem, mas pode fazer muito mal se não for um sentimento que traga uma liberdade de ser você mesmo, sem dependências excessivas. Na minha opinião, para se ter um amor "parceiro" é necessário se conhecer bem, antes de qualquer coisa. A Marina, personagem do livro, busca um relacionamento assim. Já a outra personagem vê tudo isso de outro jeito, de uma forma mais obsessiva e egoísta.

No site da Editora Europa encontramos o release do livro que diz: “Amores Incertos, retrata o mundo moderno em que mulheres assumem novos papéis, enquanto homens se mostram mais inseguros". Na sua opinião, a que se deve essa insegurança dos homens? Qual o impacto dessas novas escolhas de vida das mulheres na família, na relação com o marido e com os filhos? A insegurança dos homens de hoje é a mesma das mulheres, por estarmos no mesmo patamar na relação. A diferença é essa. A maioria das mulheres atuais, não pensa muito na estabilidade financeira e emocional, como já aconteceu com nossas mães e avós. Temos outras inseguranças, mas podemos pensar de outra forma e buscarmos conseguir relacionamentos mais verdadeiros e transparentes.

São mostrados no livro dilemas das prioridades da vida de uma mulher atual, como cuidar da família e trabalhar. Uma das personagens tem esta questão no livro e seu marido é inseguro profissional e emocionalmente.

Com essa maior facilidade de poder decidir quem queremos ao nosso lado e não de quem precisamos para poder sobreviver, outras opções acabam se abrindo para uma mulher que apenas precisa ser feliz.

Os papéis, na minha opinião, não são invertidos, mas sim equilibrados e as responsabilidades são muito parecidas. Criar um filho, evoluir profissionalmente, estar num relacionamento de uma forma honesta, leal e verdadeira é tarefa para homens e mulheres. Isso é exposto de uma forma muito simples e natural no livro e é apenas uma das várias questões das personagens. Há personagens muito seguras e determinadas e outras mais frágeis. É como se estivéssemos lendo uma história parecida com a nossa ou com a de alguém que já conhecemos.

Não escrevi querendo mostrar as diferenças dos tempos atuais e de uma época mais distante, mas sim retratar de uma forma natural a vida de pessoas fictícias, mas que poderiam ser reais.

Você pretende continuar escrevendo? Já estou escrevendo o segundo livro. O editor pediu que eu continuasse nessa linha de conflitos sentimentais. O tema do próximo é "casar ou não casar e descasar ou não descasar". Só sei o tema, pois o título ainda é muito provisório.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

TIHUANA (outubro/2008)

Conte um pouquinho da história do Tihuana. Da banda, só eu sou daqui de São Paulo; todos os outros vieram do Rio de Janeiro. Nós acabamos nos conhecendo na Feira do Surf, que naquele ano tava rolando lá no Ibirapuera, há dez anos atrás.

Eu estava com outra banda lá fazendo um som. Nessa banda, nós tocávamos por hobby, porque todos nós estávamos sem banda então nós nos juntávamos para fazer um som. Então, essa banda não era uma coisa tão certa.

Foi aí que eu conheci o pessoal. Eles haviam vindo do Rio, e os quatro estavam morando juntos num apartamento em Santa Cecília e estavam aqui havia alguns meses, procurando um vocal pra montar uma banda.

Tudo foi muito rápido, porque logo que nós nos conhecemos, trocamos telefone e fomos para o estúdio fazer umas fitas-demo (naquela época era o K7 ainda), até que gravamos o nosso primeiro disco no final de 1999.

Tudo foi muito rápido: nos conhecermos, fazermos um repertório e conseguirmos uma gravadora. Nós nos conhecemos no início de 1999, e no final daquele mesmo ano nós já estávamos assinando com uma gravadora.

Eu e os caras da banda já estamos na estrada há mais de 20 anos e já tocamos em várias bandas. Nós costumamos dizer que, tudo aquilo que nós não tínhamos conseguido com as nossas bandas anteriores, nós conseguimos rapidamente com o Tihuana.

Quando nós cinco nos encontramos tudo rolou rapidinho.

De onde surgiu o nome Tihuana? Quando estávamos com a metade do nosso primeiro disco gravado (já havíamos gravado 6 faixas) ainda não tínhamos um nome pra banda. Até então, nós estávamos ensaiando e compondo, e não havíamos parado para pensar em colocar um nome na banda, até porque ainda não estávamos nem fazendo shows.

Mas, aí, quando começamos a gravar o disco, surgiu o problema do nome: nós íamos gravar um disco e ainda não havíamos dado nome à banda. Aí, durante a gravação do disco nós fizemos listas e mais listas de nomes. Nós nos encontrávamos todos os dias e cada um falava um nome, até que em uma dessas listas, surgiu o nome Tijuana (o nome da cidade). Aí quando nós chegamos a esse nome, a decisão foi unânime, foi impressionante: nós olhamos para o nome e falamos “É esse!”. O disco já estava com uma latinidade muito grande e nós tínhamos essa influência de Manu Chao e de algumas bandas latinas; então, até o nome ficou perfeito porque já remetia a alguma coisa latina. Então foi isso.

Nós escolhemos o nome e passamos num numerólogo para ver se o nome era legal. Nós estávamos em dúvida se escreveríamos Tihuana (com h) ou se manteríamos o nome Tijuana (com j) igual à cidade, porque com h dá a mesma sonoridade, mas fica diferente. Ele gostou e achou melhor ficar Tihuana (com h).

Como vocês escolhem o repertório dos discos de vocês? Sempre quando a gente começa a compor alguma coisa, é legal porque é uma novidade pra todos nós. Nós gostamos muito de inovar, então cada disco nosso é uma história. Nós gostamos de ter uma história diferente em cada disco então um disco é muito diferente do outro. Isso é muito bacana porque estamos sempre misturando sons e instrumentos diferentes. Então, é assim, a gente não chega e diz “vamos fazer um disco da seguinte forma”; nós vamos fazendo e vamos dando a cara pro disco conforme estamos fazendo a pré-produção desse disco.

Nós passamos horas e horas no estúdio para decidir o que será gravado, e por vezes nós gravamos, sei lá, 50 músicas para depois selecionarmos umas 10 músicas.

Então, é difícil montar um repertório pro disco, porque o disco começa a ter uma cara depois que você já está na quinta, sexta, sétima composição do disco. É aí que você começa a ver que ele tem uma cara. E as músicas que não têm a cara do disco, você já vai tirando ou vai dando uma lapidada. É assim que a gente trabalha. A gente vai compondo, vai pro estúdio, testa, experimenta, grava... se ficou bom, tudo bem, se não ficou, esquece!

Nós compomos bastante. Em média, lançamos um disco a cada ano e meio.

Você poderia falar um pouco da música “Tropa de Elite”? A música “Tropa de Elite” está naquela primeira fita-demo em K7 que nós fizemos em 1999! A música já estava lá há dez anos atrás em entrou no nosso primeiro disco que foi lançado em 2000. Inclusive, a “Tropa de Elite” tocou na rádio.

Dali em diante, sempre que nós passávamos por diferentes cidades, a gente se encontrava com um batalhão de polícia, exército, seguranças, e eles sempre vinham contar pra gente que a música cantada no pelotão deles era a “Tropa de Elite”. Todas essas milícias policiais se identificavam muito com a música e nós sempre ouvimos esses comentários ao longo desses anos.

Até que no início do ano passado, o José Padilha procurou a gente pois ele estava gravando algo que, até então era um documentário que ainda não tinha nome, mas que contava a história do BOP, e ele chegou até a gente justamente pelo BOP, que usava a nossa música nas operações deles – que foi algo que nós ficamos sabendo e foi uma surpresa pra gente! – e eles perguntaram se, pra gente seria interessante que a música fosse incluída no documentário. Nós achamos tudo isso muito legal, porque até então não havíamos tido um convite assim.

Essa foi uma novidade bacana pra gente. Aí, o que aconteceu em seguida foi uma loucura, porque nós ficamos sabendo que a nossa música estava encabeçando a trilha do filme, e que estava dando título ao filme. Nós não esperávamos por isso e eu acho que ninguém estava esperando isso – nem o José Padilha, nem o elenco (que nós tivemos o prazer de conhecer). Nós não esperávamos que o sucesso do filme fosse ser tão grande, pois ele acabou por marcar uma geração. E ter a nossa música junto marcou bastante também.

Na verdade, a música fala de nós mesmos. A “Tropa de Elite” conta a história do Tihuana logo que nós estávamos no início da banda, pois nós estávamos chegando como uma banda nova. Então, a Tropa de Elite que nós falamos na música, somos nós mesmos! Mas, rolou uma identificação tão perfeita entre a música e o filme, que quando eu vi o filme eu não acreditei, porque a música parece que foi feita para o filme! Tanto é que, pelo menos 90% das pessoas acham que nós fizemos a música para o filme! Na verdade, o que acontece é que a música tem um duplo sentido que coube perfeitamente no contexto do filme, mas ela é uma música muito “pra cima” e cheia de energia, e não uma música fascista, como alguns pensaram ser. A música tem uma pegada meio “grito de guerra”, “canto de exército”, “grito de torcida”.

Tudo isso que aconteceu com a música foi muito legal e está sendo muito legal pra gente até agora. Nós ainda estamos colhendo os frutos!

Fale um pouquinho sobre o primeiro DVD de vocês, o Tropa de Elite. O DVD ficou muito bacana! Ele tá muito legal! Nós gravamos aqui no Kazebre em São Paulo, só que nós fizemos o show na parte externa (no estacionamento), porque nós queríamos fazer um palco grandão com várias câmeras, não daria para fazer isso lá dentro, porque lá o palco é pequeno, o teto é baixo... então, não ia rolar legal. Então nós fizemos lá fora, e fizemos uma produção muito grande. O show foi feito em 23 de dezembro de 2007, e tinha mais de cinco mil fãs assistindo. Nós recebemos vários convidados, o Zeider do “Planta & Raiz”, o Di Ferrero e o Gee Rocha do NXZERO, o Dj J F, Laércio da Costa, Ivy, André Ramiro e os MCs Junior e Leonardo (que são os autores do verdadeiro Rap das Armas. Aliás, a versão do Rap das Armas que nós fizemos ficou uma versão total rock, diferente daquela que o público conhece).

O CD Tropa de Elite ao vivo vem com 14 faixas, enquanto que o DVD tem 16, e vem com um extra que nós fizemos que é um making of que é como um mini “reality show” que mostra a gente na estrada. Nesses dias, nós fizemos 7 shows em cinco dias. Nesses cinco dias aconteceu tudo o que poderia acontecer com uma banda em 10 anos de carreira! Quebrar ônibus, chuva, uns perrengues na estrada... é bem bacana de assistir, porque a galera acaba vendo a personalidade de cada um da banda. E aconselho a galera a assistir primeiro o making of e depois o show, porque o show é uma continuação de tudo aquilo que acontece no making of. Nós apelidamos o making of de “Medo e Delírio na Estrada”, que é algo que quando a galera vir, vai entender do que eu estou falando! O nome vem de uma brincadeira que nós fizemos com aquele “Medo e Delírio em Las Vegas”.

Existe alguma situação interessante relacionada a fãs? O público do Tihuana já mudou muito. A galera que acompanhava a gente no início já mudou: agora o pessoal está mais velho. A galera que está chegando agora, conhece mais o “Tropa de Elite”, não conhece muita coisa e está começando a conhecer a gente agora. No começo, teve muito daquele negócio de fã querendo arrancar a nossa roupa, muita calcinha jogada no palco, esse tipo de coisa.

Teve uma vez que uma menina invadiu o meu quarto! Estava tudo escuro, eu estava dormindo e a porta não estava trancada. Ela entrou, eu acorde, vi um vulto e levei um susto, porque pensei que talvez fosse um assalto, mas aí o segurança veio e tirou ela do quarto. Mas isso foi há 9 anos atrás. Agora as coisas são mais tranqüilas pra gente!

Vocês já estão pensando no próximo trabalho? Então, nós gravamos o DVD que na verdade gira em torno da nossa discografia e não tem nenhuma música inédita. Agora nós já estamos preparando um disco novo para o ano que vem, para o qual nós já temos algumas composições prontas. Então, ano que vem sai um álbum de inéditas do Tihuana. Não podemos parar nunca! Se pararmos, acabou tudo!

Durante esses 10 anos de trajetória, um acontecimento que marcou muito a gente foi esse lance do filme “Tropa de Elite”. Foi algo tão grande que nós ainda não conseguimos sequer ter noção do tamanho de tudo o que aconteceu. A repercussão foi mundial, então as pessoas conhecem em vários países da América Latina, na Europa, no Japão... em vários lugares onde a galera curtiu o filme. Isso está sendo bom pra caramba pra gente.

JANETH ARCAIN (agosto/2008)

Como surgiu o seu interesse pelo basquete? Começou em 83, quando houve um mundial de basquete aqui no Brasil, no Ibirapuera; foi aí que eu decidi começar a jogar. Na época, eu fazia educação física na escola, a minha professora me apoiava bastante, e eu comecei a jogar numa cidade do interior, chamada Catanduva.

Como foi a sua experiência na WNBA, a NBA Feminina? A WNBA aconteceu para mim depois de Atlanta 96. O meu primeiro ano lá foi 97, e a experiência foi muito boa, muito diferente para mim. Eu estava indo para um país onde eu não falava a língua, não conhecia os hábitos das pessoas, do país. Mas, eu tive um grande aprendizado, que foi a vivência, as amizades que eu acabei encontrando, e também jogando basquete: como a gente fala, bola na cesta é igual em qualquer lugar! Eu acabei sendo muito valorizada lá, e isso acabou me fazendo crescer muito, como pessoa e como atleta.

Fale sobre o prêmio de “Jogadora que mais evoluiu” na WNBA em 2001. O prêmio foi uma conseqüência do meu trabalho. Em 2001 eu consegui desempenhar o meu melhor basquetebol – acredito que lá eu estava no auge da minha carreira – e a gente conseguiu esse resultado. Eu acho que tudo isso foi graças, também, à minha dedicação, ao reconhecimento do público e dos jornalistas, e principalmente, das minhas companheiras, sem as quais eu acho que isso não teria acontecido.

As pessoas vêem você como um grande exemplo, pois você simboliza algo muito bom na vida de muitas pessoas. Como é, para você, ser uma pessoa tão querida pelos seus fãs? Eu fico feliz por ser uma pessoa que representa tudo aquilo que fez pela sua modalidade, no caso o basquetebol, por ser uma pessoa batalhadora e ver resultados positivos; eu fico muito feliz de hoje ser um espelho para muitos jovens e crianças, que um dia chegarão aonde eu cheguei, e até mesmo serão como eu sou. Isso é muito bonito e muito gostoso, e eu me sinto realizada. Isso faz com que eu continue trabalhando – agora fora das quadras – para que esses jovens possam alcançar seus objetivos e realizar seus sonhos.

Conte-nos um pouco sobre o projeto do “Instituto Janeth Arcain”: O meu projeto começou em 5 de fevereiro de 2002, e a cada ano cresce mais. Nós, na verdade, abrimos o Instituto com o intuito de dar oportunidade a esses jovens e crianças, de poder sonhar, acreditar, ultrapassar limites, superar barreiras, alcançar objetivos, ter convívio entre amigos, superação, e, principalmente, conseguir envolver a família toda, a comunidade toda, a fim de que todos tenham benefícios com esse trabalho. Até mesmo aqueles que não chegarão a ser atletas de alto nível, pelo menos terão um esporte como algo saudável para que também possam fazer disso um hábito no dia-a-dia, que é onde entra a qualidade de vida melhor. Nós queremos plantar uma sementinha no coração daqueles que batalham, e que não chegarão a ser jogadores de basquete, mas que terão dentro de si o espírito da competitividade, a superação em tudo quanto é ramo de atividade na vida que terão. Em compensação, aqueles que chegarem a ser atletas, irão lembrar que um dia alguém deu uma oportunidade a eles, e que eles conseguiram alcançar seus objetivos.

Como você vê o apoio ao esporte no Brasil atualmente? Antes era muito bom, depois passamos por uma fase muito difícil onde o incentivo era muito pouco – aliás, ele continua sendo pouco. Mas agora, com as leis de incentivo fiscal, eu creio que as coisas melhorarão. É claro que você precisa ter pessoas realmente capacitadas, pessoas que queiram realmente ajudar, e não se beneficiar individualmente; eu acredito que o esporte pode melhorar muito, desde que haja incentivo, credibilidade (tanto das autoridades como dos governos municipal, estadual e federal) a fim de que possamos chegar aonde as grandes potências mundiais chegaram. Nós acreditamos que é através do incentivo que tudo isso poderá acontecer.

Qual foi a sensação de participar dos jogos pan-americanos pela última vez em 2007, quando você se despediu das quadras? A sensação é única. Nós passamos momentos que realmente, só quando você está lá, você consegue sentir. Às vezes, não dá nem para descrever a sensação, mas aquele foi um momento marcante na minha vida, ao lado do meu público, do povo que sempre me apoiou, que sempre acreditou em mim, sempre esteve comigo em todos os momentos – fossem eles alegres ou não – e isso vai ficar marcado em mim para o resto da minha vida. Por isso eu quis essa oportunidade de me despedir nos jogos pan-americanos do Rio de Janeiro, e deixar essa lembrança boa a todas essas pessoas que sempre me acompanharam, e até mesmo para aquelas que nunca foram favoráveis ao meu trabalho.

O que você gosta de fazer quando não está envolvida com o seu trabalho? Eu gosto de passear, ir ao cinema, ao shopping, ao supermercado, ficar em casa e “viajar” na Internet. Eu gosto muito de computador!

Você já tem algum projeto ou plano para o futuro? Os projetos que eu tenho são todos relacionados ao Instituto. Nós queremos expandir cada vez mais, a fim de beneficiar jovens de outras regiões e que a gente leve essa igualdade que o esporte oferece a todas essas crianças e essas famílias. Pessoal, eu quero, com o tempo, desfrutar das coisas que eu já conquistei, com viagens, descanso, e até mesmo assistindo a jogos de basquetebol.

Por que você veio para Santo André? Eu me fiz Andreense, mas não sou andreense. Vim para cá há uns 17 anos, então eu me sinto andreense, e me dei muito bem na cidade. A cidade me acolheu muito bem e eu acho que isso acabou fazendo da gente um “casamento” muito bom!

Você poderia deixar uma mensagem para os jovens que ainda estão ingressando – ou pretendem ingressar – no mundo dos esportes? A mensagem que eu deixo é que quando você acredita, quando você luta e trabalha pelos seus objetivos, você os acaba alcançando. Que a dedicação e a alegria estejam sempre presentes em tudo o que eles estejam fazendo.

ROBERTO SHINYASHIKI (agosto/2008)

Fale um pouco sobre a sua trajetória profissional. Sou palestrante há quase 30 anos, comecei dando palestras sobre análise transacional na América Latina, mas assumi mesmo essa carreira após o lançamento do meu primeiro livro – A Carícia Essencial – e a inauguração da Editora Gente, da qual sou fundador. Minha formação é em psiquiatria, e desta forma, o que mais sei fazer é entender de gente. Sou apaixonado pelo meu trabalho, e poderia dizer que tal paixão também me inspira a estar sempre inovando e aprendendo. Palestrar é uma forma de viabilizar isso. Em uma palestra, quando encaro os diretores, gerentes e colaboradores de uma empresa, tenho a oportunidade de exercitar minha criatividade, dividir minhas experiências e conhecimentos, e crescer com os participantes. E para tornar-me um palestrante realmente qualificado procurei não ser reconhecido somente como um “especialista em gente”; estudei muito sobre o mundo dos negócios. Queria ser uma referência como “especialista de negócios”. Estudei nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e, também conquistei o título de doutor pela FEA/USP.


Como surgiu o seu interesse em escrever livros? Eu procuro diversificar os temas e estou em constante troca de informações com as pessoas, assim escrevo livros que falam direto com o meu leitor. Eu parto do princípio de que uma vez que existimos, devemos fazer deste tempo o melhor possível e, o impossível a gente tenta. Todo ser humano busca a sua felicidade. Entretanto muitos não sabem que rumo seguir. Minha missão é ajudar essas pessoas a encontrarem a sua felicidade e seguirem seus caminhos rumo a satisfação profissional e pessoal.

Você poderia falar um pouco sobre a importância do estudo na vida das pessoas? Evolua sempre, recicle-se. O problema não é o seu objetivo, mas sim a maneira como você procura alcançá-lo. A sua vida muda quando você muda! Se você quer que os seus resultados mudem, você tem que mudar antes. A sua capacidade determina o tamanho das suas conquistas. Por isso, o campeão adora vitórias, não para receber elogios, mas para conhecer a sua força. Estar vivo é estar em permanente evolução. Por isso, deixe o passado para trás, seja ele feito de vitórias ou derrotas. No caso das derrotas, você precisa analisar seus erros, fazer um novo projeto, e tentar mudar os rumos. Quanto às vitórias, elas existem para serem comemoradas, mas jamais devem estimular a acomodação, do tipo "Já ganhei mesmo, agora posso descansar". O verdadeiro vencedor nunca desiste e nunca se cansa. Para fazer novas conquistas, é preciso deixar para trás as velhas, que já não são mais úteis, e seguir em frente.

Qual é o segredo dos campeões? São quatro os segredos dos campeões: objetivo bem definido, estratégia clara, trabalho consistente e competência superior. O objetivo bem definido é saber focar, ser insistente e persistente. A estratégia clara trata-se de definir uma tática para transformar sua meta em resultados. Não basta agir por impulso ou desanimar quando os resultados não são convincentes. É preciso ter a noção do ritmo de suas realizações e não ficar dando voltas sem rumo, pois não tardará para que surjam problemas durante essa jornada. O trabalho consistente é atuar com alegria e comprometimento. Ter prazer em acordar e ir para a empresa, pois trabalhar é realizar sua missão de vida. A competência superior é preciso realizar suas metas de vida; o vencedor tem de ser capaz de entregar os resultados e, principalmente, ter a capacidade de realizar seus projetos profissionais. Cada um de nós precisa ver o que precisa ser feito para que seus esforços sejam transformados em resultados. Sempre podemos evoluir e criar recursos necessários para termos sucesso.

Por que é importante sonhar e lutar por um sonho? Eu acredito muito em nossos sonhos, creio que dentro do coração humano sempre existiu uma força interior que lhe permite sonhar. O homem tem uma grande capacidade de imaginar e realizar suas obras. Não importa de onde você veio nem onde você está. O que vale é aonde você quer chegar. Não espere que os outros cumpram a obrigação que é sua. Sonhe, mas não aguarde que os outros realizem seus sonhos. Corra você atrás deles. Enquanto os perdedores se acomodam e pensam que um sonho é muito para eles, os campeões se perguntam o que precisam fazer para realizá-los.

Conte um pouquinho sobre a época em que você morava em São Vicente e de como você realizou um sonho. Nasci em São Vicente, mas passei minha infância e adolescência em Santos, fui um jovem normal, pode-se dizer. Com todas aquelas dúvidas e incertezas de quem ainda não sabe o que quer da vida, com as manias de achar que era dono do meu nariz, que tudo o que era ruim só acontecia com os outros e por causa dos outros. Como para muitos jovens rebeldes da minha época, a música parecia ser a única alternativa razoável. Ter uma banda, tocar em um conjunto, era uma forma de mostrar ao mundo o meu modo de ser, sem ter de dar explicações a quem quer que fosse − pelo menos era assim que eu imaginava. Decidi ser músico. Em seguida, comecei a tocar em conjuntos de baile e, passado um ano, fui tocar na noite, nos bares de Santos. Naquela época também houve uma pessoa muito especial: minha psicoterapeuta, a Doutora Isabel. Ela foi sensacional como orientadora. Minha admiração por ela era tão grande que comecei a pensar em fazer para outras pessoas todo o bem que ela me fazia. Foi ela a principal responsável por eu decidir cursar Medicina e me tornar um psiquiatra. Em seis meses minha vida se transformou radicalmente. Larguei a “carreira” de músico na noite, e entrei na faculdade de Medicina. As pessoas ficavam surpresas quando me encontravam e descobriam que eu estava estudando para ser médico. De músico rebelde para médico. Mas eu assumi o curso de Medicina com responsabilidade e, em pouco tempo, especializei-me em Psiquiatria. Apaixonei-me pelo trabalho. Minha realidade mudou da água para o vinho. Passei a valorizar a importância de ter um motivo para lutar. Ajudar as pessoas a encontrar seu caminho tornou-se a razão do meu trabalho.

Qual a importância de fazer sempre algo a mais e de não ser “o medíocre”? Muitas vezes a acomodação com a vida que temos significa que nos acostumamos com pouco. É a adaptação aos pequenos sofrimentos diários. É fechar os olhos para as mudanças possíveis com preguiça de correr riscos. É ficar na confortável e segura rotina que criamos em vez de partir em busca de algo mais. Quem foi contaminado pelo vírus da acomodação sempre deixa para amanhã o que poderia fazer hoje. Arriscar é, portanto, preciso. Acordar para o mundo é preciso. Encante-se com as portas que se abrem à frente a cada novidade que surge em sua vida. Não permita que a porta se feche antes que você tenha visto o que havia do outro lado. Não fique sentado esperando a morte chegar. As pessoas que ficam assim começam, depois de alguns anos, a sentir um enorme vazio no peito. Só então saem desse estado permanente de acomodação, acordam para o mundo e constatam, decepcionadas, que não criaram nada, não arriscaram nada, não aproveitaram nada. O problema é que isso costuma acontecer tarde demais. Não deixe a acomodação tomar conta de sua vida, por isso, dê a si mesmo a oportunidade de aproveitar a vida e nunca a despreze. Lembre-se: quem espera desespera. Se você perceber que está esperando a morte chegar, é hora de sair para o tudo ou nada, e mostrar que seu coração ainda pulsa.

Roberto, fale um pouco sobre realização pessoal / profissional. O segredo para a gente ter sucesso na vida não está no talento que temos, mas na nossa capacidade de trabalhar para suprir a nossa falta de talento. Se tivermos pique para nos dedicarmos aos nossos projetos, com todo o nosso coração, vamos conseguir chegar lá e encontraremos muitas pessoas dispostas a nos ajudar durante a construção desse caminho. Na verdade, eu tive várias pessoas que contribuíram para a minha trajetória profissional. Desde meu pai e minha mãe, que sempre foram muito batalhadores, até professores da escola de medicina, terapeutas e mestres indianos.

Comente sobre a relação entre pai e filhos. Eu, que tenho cinco filhos, não consigo imaginar um tesouro maior do que esse. Infelizmente, vemos a maioria das pessoas gastar a vida na ânsia de acumular riquezas materiais, aplausos, sucesso, status e se esquecem dos filhos. No entanto, você sabe que nenhum tesouro do mundo compensa o distanciamento dos filhos nem a destruição da família. Se, para você, felicidade é sinônimo de ter filhos felizes, é fundamental que eles se tornem realmente prioridade em sua vida. Hoje em dia, muitas pessoas dizem que os filhos são importantes, que os amam muito e se sacrificam para proporcionar a eles o que há de melhor em educação, uma vida confortável e segurança econômica no futuro. O que tenho visto, porém, são pessoas que chegam em casa irritadas depois do trabalho, com pouquíssima disponibilidade para passar bons momentos com a família. São pessoas que dão conforto, bens materiais e uma série de coisas boas a seus filhos, mas são presentes embrulhados em angústia. E, por acréscimo, provocam nos filhos a culpa de ver os pais trabalharem tanto para lhes dar tudo. Gostaria que, neste momento, os pais refletissem a respeito do que realmente estão fazendo para colocar seu filho, ou seus filhos, como prioridade de vida. Eu imagino que trabalham muito e, portanto, não lhes sobra tempo para mais nada. Mas vocês não podem mais usar isso como desculpa. Talvez priorizarem sua família suponha pagar um preço, que pode ser menos dinheiro, menos status, comprar brinquedos mais simples, jantar fora com menos freqüência, não ter tantas roupas de grifes famosas, e até mesmo deixar uma herança menor para eles. Mas com certeza vocês se sentirão mais realizados como seres humanos. Dinheiro sem felicidade é o começo de uma vida sem sentido.

Na sua opinião, qual a melhor herança que um pai pode deixar para o seu filho? O caráter e a capacidade de pedir perdão. Há pessoas que nunca se permitem reconhecer um erro: têm uma auto-imagem de perfeição. Pensam que os outros não irão mais valorizá-las nem respeitá-las se admitirem uma falha pessoal. Essa postura acaba prejudicando a comunicação, pois geralmente a pessoa espera que o outro assuma um erro que na verdade é seu. Há quem, percebendo uma situação tensa, pede desculpas para ver se o outro muda de assunto. Não o faz por arrependimento, mas como recurso estratégico para pôr fim à discussão, o que reflete simplesmente uma tática para encerrar a conversa e não se comprometer com a mudança. Reconhecer o próprio erro e pedir desculpas com a disposição verdadeira de corrigir-se é uma demonstração de humildade e de valorização do outro. É ter consciência do mal-estar que sua conduta provoca no outro e assumir o compromisso de agir de modo diferente na próxima vez.

ROBERTO MENESCAL (julho/2008)

Você define a Bossa Nova como um gênero ou um movimento? Eu acho que é tudo! Nós não tínhamos noção de que estávamos fazendo algo que seria tão duradouro e que iria transformar tanto a música brasileira. Nós estávamos apenas tentando fazer uma música que tivesse mais a ver com a nossa geração (todos tínhamos entre 18 e 20 anos de idade e a música que estava no Brasil naquela época era uma música com assuntos muito pesados para a nossa geração) mas ela acabou modificando bastante o cenário e os costumes da época. Quer dizer, a palavra Bossa Nova passou a definir um comportamento (“Basta o jeitinho dela andar”, sabe?). Então é isso: ela foi um movimento, uma música que nasceu de forma simples e que modificou comportamentos.

A Bossa Nova é uma mistura de gêneros musicais? A Bossa Nova é uma mistura de coisas que a gente ouvia, principalmente o samba-canção que se fazia nos anos anteriores à Bossa Nova, que já era um samba-canção mais moderno em termos de harmonia e melodia; o jazz, porque o jazz era uma música jovem na época, feita por músicos norte-americanos bem jovens e que trazia com a música uma nova atitude perante a vida: o modo de se vestir, o modo de agir; o samba, mas a gente não sabia tocar o samba direito então começamos a fazer a Bossa Nova que era quase um novo samba; o bolero, porque nós ouvíamos e dançávamos muito bolero!

Por que ainda hoje – após 50 anos – a Bossa Nova desperta tanto o interesse das pessoas? Nós não sabemos exatamente o por quê, mas temos alguns dados que podem ser observados. A Bossa Nova foi a primeira música brasileira com um sabor universal, porque como ela foi baseada também no jazz e no bolero, ela tem um cunho de influências vindas de fora. Então, por causa disso, ela já tinha um sabor um pouco internacional. Botando um pouco do ritmo brasileiro, ficou uma coisa brasileira, mas ao mesmo tempo com esse sabor internacional. Depois, ela entrou no mundo inteiro, o que fez com que ela tivesse chances de durar muito mais.

O que você acha que colaborou, na época, para que o trabalho de vocês agradasse ao público? Eu acho que a gente deu principalmente pro Universitário uma música brasileira que tinha a ver com ele. Imagina só você com 20 anos, cantando “Se eu morresse amanhã de manhã, minha falta ninguém sentiria...”. Não dava pra um cara novo, que está na Universidade, cheio de esperança, de vontade e de vida, cantar isso aí. Então, a gente deu pra ele a possibilidade de cantar uma música mais leve e que tinha mais a ver com a vida que ele estava descobrindo. Nós fomos as primeiras gerações a usar a praia em todo o seu esplendor: a gente surfava, jogava vôlei, futebol, namorava... A praia era o nosso clube, então não dava para estar na praia e cantar aquelas músicas pesadas.

Qual a diferença que você vê no Rio de antigamente para o Rio de agora? O Rio era uma cidade muito mais bonita. Não que as coisas tenham mudado de lugar: o Pão-de-Açúcar continua lá, o Corcovado também, mas, você quase não os vê mais. Os prédios tomaram conta de tudo. Em São Paulo, por exemplo, é difícil você perguntar para alguém onde fica uma determinada rua, porque a pessoa te responde “Ah, rapaz, você segue aqui, pega o contorno ali...” e você começa a relação de nomes de ruas... é difícil explicar. Em São Paulo cada um tem um caminho. Por outro lado, no Rio você falava assim: “É à direita do Corcovado”, e só tinha esse caminho. Então, para tudo você se baseava na própria paisagem do Rio, e você não tinha esse perigo que você tem hoje nas grandes cidades. Nós saíamos da casa da Nara às quatro horas da manhã e íamos para a praia tocar. Hoje você não faz isso. Então, hoje o Rio é uma cidade na qual você tem que olhar para trás quando estiver andando, e naquela época você só olhava pra frente. Eu não gosto de viver do passado; passado é passado e acabou, mas você não pode esquecer que essas coisas mudaram.

Você poderia falar um pouco sobre as reuniões na casa da Nara Leão? Nara era uma pessoa muito interessante, porque era uma menina muito jovem, mas muito à frente da sua época, da sua turma. Ela era uma pessoa muito culta, de cabeça muito aberta, que tinha um apartamento maravilhoso na Avenida Atlântica, cujos pais eram muito liberais e preferiam que as pessoas viessem para dentro da casa dela a ela ficar pela noite por aí. Então, isso ajudou que a sede do nosso clube fosse a casa da Nara. Claro que a gente ia pra vários lugares também, mas a base era a casa da Nara. Lembrando que até então, não tinha mulher tocando violão: tinha a Inezita Barroso, uma aqui e outra ali. Sabe, era raro; as meninas mesmo da classe média (principalmente classe média alta) não tocavam violão; elas tocavam acordeom, que era muito pesado! Então, elas começam a tocar violão e gostaram daquele instrumento que, por ser leve, podia ser levado a todos os lugares. Mesmo quem não levava jeito pro violão, queria aprender aquela batidinha da Bossa Nova. Então, isso foi uma maravilha que espalhou, a Nara ficou sendo esse protótipo da menina jovem de classe média – mais pra alta – que mora em Copacabana e que sai com o seu violão debaixo do braço. Imagina, mudou tudo! É o que eu te falo, a Bossa Nova propôs uma nova posição perante a vida que até então não existia.

Quando falamos em Bossa Nova, vemos que as letras são muito bonitas, as melodias são muito sofisticadas e parece que tudo é elaborado com muito cuidado. Pode ser que a resultante seja elaborada, mas tudo era tão natural, que ninguém elaborava música nenhuma! Elas iam saindo de uma maneira incrível! Sabe que, como o Paulo Coelho sempre diz, o Universo todo conspirou para que aquilo acontecesse naquele momento. Então, nós fazíamos música de uma maneira tão simples que até ficávamos envergonhados! Quantas vezes cantores pediram para que eu fizesse uma música e eu dizia “eu faço, mas preciso de uns dez dias”. Aí eu fazia no mesmo dia e guardava na gaveta, pra não parecer que era tão fácil assim! Era tão natural! foi um momento do mundo que nos deu aquela chance de fazer as coisas com uma naturalidade que talvez não exista mais hoje.

Você poderia contar algum caso da Bossa Nova que tenha sido importante na sua vida? Na verdade, a gente se encontrava tanto! Hoje as pessoas se falam pela Internet, mas nós nos víamos todos os dias, então cada um trazia uma novidade: um acorde novo, uma música nova, uma letra nova ou um caso novo. Então, era muito engraçada a vida da gente!

Mas, um caso que me marcou muito foi o meu encontro com Tom Jobim. Eu ouvia na rádio as músicas que o Jobim estava fazendo com os seus parceiros – primeiramente o Newton Mendonça, depois Vinícius de Moraes – e ficava vidrado naquele que era o meu grande mestre, como é até hoje. Eu queria muito conhecê-lo, então ia aos lugares em que poderia ir mas nunca o encontrava. Às vezes eu saia desses lugares já de porre, de tão nervoso por não ter encontrado o Tom! Aí me levavam embora e depois eu ficava sabendo que um pouco depois de eu ter ido embora, o ele havia chegado! Naquela época, eu e Carlinhos Lyra dávamos aula de violão em um apartamento, e um dia, no final da tarde – enquanto eu estava dando aula de violão para uma menina (com a mãe dela vigiando ao lado, é claro!) – bateram à minha porta e era o Jobim! Eu não acreditei que aquele cara estava na minha frente! Ele me perguntou se eu era o Menescal, e falou:

– Vim te buscar aqui para saber se você pode gravar comigo um negócio pro filme do Orfeu da Conceição

– Mas é claro que eu posso!

– Mas você não está ocupado aí dando aula?

– Eu dou um jeito.

Bom, eu quase que expulsei a menina, pois não podia perder aquela chance, e saí com ele! Quando a gravação terminou, o Tom disse que tínhamos que acertar o meu cachê, mas eu não quis receber. Imagine, seria um pecado receber! Aí, como eu não aceitei receber cachê, ele me convidou para jantar e fomos a um restaurante ali em Copacabana e, no dia seguinte, eu me tornei músico! Até então, eu tocava, mas pensava em ser arquiteto, em tentar entrar para Marinha ou fazer qualquer outra coisa que me desse uma garantia. Mas, conversando com ele durante o jantar ele me disse:

– Mas cara, você não quer ser músico?

– Quero.

– Então larga tudo e vai estudar música!

Ser músico era o que eu mais queria, mas até então eu estava inseguro. Então esse foi um caso que me marcou muito, porque esse encontro foi vital pra mim, porque mudou toda a minha vida!

O que levou você a estudar música? Na verdade eu acho que a música me escolheu. É diferente. Eu não sabia que tinha jeito para a música; o que aconteceu foi que quando eu tinha 11 anos de idade, o meu pai um dia deu para mim e para o meu irmão, uma gaitinha de plástico – dessas bem ruinzinhas que você usa em chaveiro – e de noite quando ele chegou do trabalho, eu estava tocando uma música, enquanto que o meu irmão não estava tocando nada! O meu pai me perguntou quem havia me ensinado a tocar, e eu disse que ninguém havia me ensinado, mas que eu queria tocar e consegui. Então, ali ele percebeu que eu tinha jeito para a música e o meu irmão não. Ele me colocou na aula de piano, mas não segui, porque quem me ensinava era uma tia, e ela era muito rígida: toda vez que eu tocava uma nota a mais, ela batia no meu dedo. Eu gostava de Chopin e tal, mas eu sempre tocava umas notas a mais e ela dava uma varetada no meu dedo, aí eu não quis mais levar varetadas e acabei largando o piano. Depois disso, toquei um pouquinho de acordeom, porque era um instrumento que eu poderia levar para outros lugares, até que aos 17 anos eu descobri o violão. Foi paixão eterna!

Fale um pouquinho sobre o trabalho que você faz atualmente. Outro dia um amigo me perguntou um negócio muito interessante: “Roberto, afinal o que você é na música?”, eu respondi “Ih, rapaz, sabe que eu nunca pensei nisso?”, porque eu não sou o compositor, o instrumentista, o produtor, o artista e assim por diante. Mas, eu sou um pouco de tudo. Não me dediquei a nada intensamente, mas me dediquei a várias áreas da música. Isso me deu muitas possibilidades na vida, mais até do que se eu fosse, de repente, um instrumentista e tocasse guitarra como Victor Biglione, Baden Powell, esses caras. Não, eu não sou nada disso e não vou ser nunca. Mas, eu faço algumas coisas que eles não fazem: eu produzo discos, faço arranjos, e assim por diante. Então, eu acho que sem querer, eu me fiz como um cara que está dentro da roda da música. Eu sou um pouco de tudo! Não sou nada inteiro mas sou um pouco de tudo!