domingo, 14 de fevereiro de 2010

FABIO ARRUDA (maio/2008)


Como surgiu o seu interesse por Etiqueta? Na realidade, o interesse por Etiqueta esteve sempre presente, porque eu fui criado – até por ser filho temporão, e mesmo os meus irmãos mais velhos – de uma forma super elaborada, detalhada... mas sempre muito gostosa, e tendo como valores mais importantes decência, dignidade e até algumas coisas que infelizmente estão um pouco perdidas. Junto com isso veio a sofisticação, mesas bem postas e tal.

Como você começou a fazer esse trabalho? Começou quando a Patrícia de Sabrit – minha prima – me chamou para fazer o casamento dela com o Fabio Jr. – que foi aquela coisa relâmpago, super rápida, e uma festa imensa. Aí todos os programas de televisão queriam saber detalhes do casamento. Num desses programas, o da Claudete Troiano, que na época fazia o Note e Anote na Record, ela falou para mim: ”Agora você não sai mais daqui: você tem um quadro no programa”. Isso era algo que eu nem imaginava, e foi muito bacana. Só que aí os fãs começaram a pedir um material por escrito. Esse material foi primeiramente uma apostila, e essa apostila se transformou no meu primeiro livro – o “Sempre, Às Vezes, Nunca”.

Nessa época, eu iniciei uma pesquisa gigante e minuciosa, procurando aprender o máximo possível de outras culturas. Aí eu aproveitei os idiomas que eu falo: o inglês (fiz faculdade nos EUA), o espanhol (morei na Espanha) e o francês (que eu “arranho” bem!), e li tudo o que encontrei pela frente referente à etiqueta e comportamento. E é isso o que eu tenho feito desde então! Esses últimos sete anos – já que o primeiro livro eu comecei a fazer em 2001 – têm sido de muita pesquisa. Etiqueta é um assunto fascinante!

Quem são as pessoas que mais procuram o seu trabalho? Há um público específico? O meu público é muito variado: desde executivos, presidentes de empresas, até senhoras que querem aprimorar a etiqueta do cotidiano, até para entrar mais na história de (arrumar) mesas e tal.

Além disso, as pessoas querem se profissionalizar nesse assunto de etiqueta e comportamento. O curso do SENAC que eu elaborei chamado “Chique e Útil” (que é o título do meu segundo livro) está mostrando que o interesse é super amplo. Não dá para definir classe social, faixa etária para o meu trabalho: eu acho que é super aberto: crianças, jovens... Debutantes me contratam para fazer a etiqueta e a preparação das suas festas. Olha, é muito gostoso!

Para você, o que é ser elegante? Para mim, a definição de ser elegante, é ser natural. Não existe uma elegância forçada. É claro que existem algumas dicas como: “a elegância é silenciosa”, “a elegância não faz barulho”, “a elegância é pontual”, “a elegância é discreta”... Mas acho que a pessoa elegante só é assim se ela for tudo isso de verdade. Se ela estiver fingindo, e se estiver fazendo muito esforço para ser assim, ela será uma personagem, e toda personagem uma hora sai do palco.

As pessoas costumam confundir elegância e charme com poder aquisitivo. O que você acha disso? Uma grande bobagem, porque não tem a menor ligação. O que acontece é que pessoas com maior poder aquisitivo têm uma facilidade maior de acesso a artigos e objetos que são charmosos, interessantes e custam caro. Então, é só essa a aproximação que existe: o fato de você poder estar próximo de coisas bonitas, interessantes e que, de repente, custam caro (embora existam coisas caras que são horrorosas!). Mas isso não tem nada a ver com comportamento ou com a essência da pessoa. A essência não depende de condição financeira. Dignidade, moral, caráter estão completamente separados do conceito de riqueza e pobreza.

Como você vê a etiqueta nos dias de hoje? Olha, eu sinto que é uma necessidade premente. Acho que por isso há essa procura tão grande pelo assunto, pelas publicações, pelas palestras – que eu tenho feito no Brasil inteiro. Acabei de voltar de Belém do Pará, segunda-feira agora eu vou para São José do Rio Perto, na outra semana vou para Teresina, depois Londrina... Nossa! A minha agenda está uma maluquice! Mas, eu sinto que esse interesse – literalmente do Oiapoque ao Chuí – é uma tendência: as pessoas querem aprimorar o seu comportamento. Elas perceberam que é fundamental você ser uma pessoa que se porta bem nos lugares, e, principalmente, ser uma pessoa que se porta de maneira apropriada.

Acho que um grande sinônimo de comportamento, de classe e elegância, é ser apropriado. E as pessoas estão sentindo falta justamente desse domínio do comportamento de acordo com cada lugar. Apesar de você ser sempre a mesma pessoa, tem que haver variações: certas permissões que você tem em um churrasco ou numa feijoada com pagode, você não tem num restaurante ou num jantar black-tie, formal em homenagem a alguém. Quer dizer, existem variações – mesmo que a educação seja a mesma – de se ter mais ou menos liberdade em determinados momentos.

Mesmo porque tem gente que acaba se deixando levar até pelo que é mostrado em novelas... Não tem nada pior do que rico de novela! O visual é uma tragédia! Eu não consigo entender uma coisa dessas. As atitudes me impressionam, porque eles não têm a mínima educação; eles demonstram isso. Você percebe que quando eles estão num restaurante, não sabem nem comer! Não sabem segurar um talher... nada disso. Sabe, assim não funciona: só se vê essa história de jogos de poder, de maquinações, pessoas arquitetando como roubar a namorada do outro, como matar o filho... eu acho um terror. Não me conformo como alguém pode tomar isso como exemplo para o seu comportamento.

Em caso de cometer uma gafe, qual é a melhor saída? Primeiramente, é importante não fazer alarde, porque tudo aquilo a que a gente dá muita importância fica maior. Então, aconteceu, ninguém gosta, e é claro que não foi de propósito. Você tem que agir com naturalidade: evite ficar se desculpando exageradamente. Não precisa disso. Continue agindo com naturalidade e demonstre que não foi a melhor atitude. Claro que você fica meio sem graça quando isso acontece, mas está certo: nós estamos aqui para aprender. Estarmos abertos para aprender, é fundamental! Ninguém é obrigado a nascer sabendo, mas morrer na ignorância, só se for uma anta!

Entre as grosserias mais comuns, qual é a mais imperdoável? A base da falta de etiqueta e causadora das gafes imperdoáveis é a falta de respeito pelo próximo. Se as pessoas conseguissem perceber que o diâmetro do mundo é muito maior que a circunferência do seu umbigo, entenderiam que devem respeitar os demais. Todas as grandes grosserias acontecem principalmente porque as pessoas usam tudo na primeira pessoa: eu quero, eu posso, eu faço, eu mando, eu grito, eu brigo, eu sou barraqueiro... é eu, eu, eu o tempo inteiro! As pessoas precisam aprender a aplicar mais o plural, o coletivo: nós, vós, eles...

Eu fui a uma das suas palestras e ouvi uma pessoa dizer “Estou com medo de falar com ele [Fabio Arruda], porque ele tão chique, tão elegante, e pode ser que a minha roupa não esteja adequada, que eu fale besteira...”. Isso acontece com freqüência? Muito! Eu sinto que há um carinho muito grande comigo por parte as pessoas; é uma coisa de fã mesmo, muito gostosa. Mas, às vezes eu sinto que as pessoas ficam intimidadas por pensar “ih, vou dar uma gafe...” e tal, e isso é uma grande bobagem, porque eu não tenho a pretensão de julgar ninguém. Mesmo porque, não sou o detentor da perfeição e de tudo aquilo o que é verdade no mundo: essas pessoas que se acham guardiãs da verdade são insuportáveis! O que eu imagino é o seguinte: “que bacana!, eu tenho um pouco de informação que eu posso dividir com as pessoas”, e eu divido com o maior prazer.

Então, se por acaso há algo que eu eventualmente critique na minha palestra – como conselho – ainda fizer parte do seu contexto, analise, veja se é bom para você continuar assim, veja se você tem mais benefícios do que prejuízos sendo dessa maneira e ao final da sua análise eu garanto que é muito provável que você vá me dar razão!

Não deixe de conferir! Em junho/2008, Fabio Arruda lançará o seu terceiro livro: “Eficiente e Elegante”.

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