domingo, 14 de fevereiro de 2010

RONNIE VON (junho/2008)

Como você e a Cristina se conheceram? Nós nos conhecemos há muitos anos pois a Cristina é minha amiga de infância. Eu conheci a Cristina quando ela tinha 11 anos de idade. As famílias são amigas, e durante muito tempo conspiraram para que esse casamento acontecesse. Na cabeça dela de pequenininha, ela havia encontrado um príncipe no cavalo branco (não era bom um cavalo branco, era um jaguar verde, mas de qualquer maneira era como se fosse um cavalo branco!). A Cristina guardou esse sentimento durante esse tempo todo (mais de 20 anos), até que um acaso do destino – ela era a minha mais íntima e querida amiga, era como minha irmã – fez com que a gente se envolvesse num incesto mútuo, e estamos casados há 22 anos!

Como que é estar casado com alguém que você conhece desde a infância? É confortável, porque eu não tenho que provar nada, eu não tenho que dizer nada, porque ela me conhece na intimidade há muito tempo e vice-versa. Eu conheço o gosto dela também, então a convivência fica fácil em todos os níveis porque você sabe até onde pode ir, o que pode fazer, o que pode reivindicar, o que não pode, o respeito à individualidade. Nós somos tão iguais que não existem essas teorias psico-dramáticas. Não tem muito isso com a gente, porque tudo é igual: o gosto é igual, os princípios são os mesmos, a visão que nós temos da vida é a mesma, então tudo fica muito fácil.

Existe algo em especial que vocês gostem muito de fazer juntos? O que nós gostamos de fazer juntos é estarmos juntos. Nós passamos muito tempo longe. Eu saio cedo, chego da televisão tarde e durmo muito tarde, acordo cedo – eu tenho uma agência de propaganda e dou o expediente, na medida do possível. Eu gosto muito de almoçar em casa (como estou fazendo agora), algumas reuniões da tarde eu transfiro pra casa ao invés de fazer no escritório, mas o tempo que eu tenho com ela – não é que seja exíguo, não é que seja pequeno – é que eu trabalho muito, então o meu objetivo sempre é chegar o mais rápido possível em casa e ficar em casa o maior número de horas possível. Então, estar com ela é sempre bom. Você pode achar que isso é uma bobagem, um conto de fadas tupiniquim... mas não é não. É a mais absoluta verdade. Tem gente que diz para mim o seguinte: “Não conta essas coisas porque não existem casais como vocês”, e eu não acho que deve ser assim. Você deve participar isso, deixar que todo mundo tenha conhecimento, que todo mundo saiba que isso existe sim. Casar com o melhor amigo é simples, porque você não tem que estar envolvido com teorias – como eu falei antes – psico-dramáticas. Mas, claro que eventualmente existem discussões filosóficas, vamos dizer. Por exemplo, eu adoro casa grande! Quanto maior melhor pra mim! Se eu pudesse ter uma casa que caiba dentro de um campo de futebol, ficaria contente (a área construída, né!). Mulher já não gosta, acha que dá muito trabalho e prefere uma coisa menor. Então, esse tipo de discussão filosófica existe, mas aí a gente faz no meio termo; em tudo tem um meio termo pra gente! Nada radicaliza.

Sabemos que você gosta muito de vinho. Há algum bom vinho especial que você goste de tomar com a Cristina? Com a Cristina eu tomo até groselha! Eu tomo até pinga com mastruz! Com ela qualquer coisa é transformada imediatamente em algo maravilhoso! Com a Cristina, de champagne millésimé a pinga, o que vale é a companhia dela!


Eu li numa entrevista que na casa de vocês, quem toma conta da parte de cama, mesa e banho, é você. Como que é isso? É o seguinte, eu fui pai com guarda de filhos. Eu tive dois casamentos antes da Cristina. Eu tinha 19 anos quando me casei pela primeira vez, quer dizer, fui fazer à primeira comunhão, o padre se enganou e me casou! E eu tive um casamento bastante feliz. A minha primeira mulher foi uma grande companheira e me deu dois filhos. Tivemos uma separação dramática e eu fiquei com a minha menina e o meu menino mais velhos. Eu tive que me envolver com as coisas mais absolutamente domésticas – o meu apelido é mãe de gravata. Um pai com guarda é uma experiência que não é única, mas é muito rara, ainda mais num país latino-americano, machista e preconceituoso. Eu comecei a me envolver com as coisas da casa: aprendi a cozinhar, eu lavo, passo, cozinho e arrumo com perfeição. Eu tive que aprender, até porque acredito que quando tem que dar alguma ordem, você tem que saber intrinsecamente o que está fazendo. Eu acabei gostando das coisas de casa, então eu gosto muito de cama, mesa e banho, adoro cozinha... Essa coisa da enologia, essa minha loucura com vinhos, é muito associada a esse negócio de cozinha. Eu acho isso fascinante, uma arte...

De repente, eu passei a ver que o homem moderno divide com a sua companheira certas atividades que antes eram tidas como femininas. Não sei em qual Almanaque está escrito que homem não pode trocar uma fralda, lavar uma louça... Eu fiz tudo o que uma mãe faz, com absoluta perfeição (me desculpe não ter modéstia!). Eu acho que o homem se quiser, pode fazer tudo como mãe, apesar da diferença de sexos. A única coisa que eu não posso fazer é gerar um filho porque a minha fisiologia não permite. Mas, até amamentar eu posso! Eu faço uma mamadeira irresistível!

Então eu acabei gostando de tudo isso! Pergunte sobre o ponto de bordado que você quiser, que eu te digo. Conheço tudo! Inclusive moda feminina. Quem veste a Cristina dos pés à cabeça sou eu! Do sapato a lingerie eu que compro tudo pra ela.

Então, eu aprendi a gostar de tudo relacionado a casa. Sou casado com uma amiga de infância, educadíssima, e eu não posso tirar certas coisas dela. Por exemplo, dos arranjos de mesa eu nem chego perto. Ela faz. Mas, as coisas ligadas à cama, mesa e banho é comigo mesmo! Ah, e a roupa dela também!

Pelo que eu percebi, vocês têm muitos momentos inesquecíveis. Mas existe algum que marcou vocês em especial? Talvez o mais inesquecível de todos os momentos em nossas vidas tenha sido o que determinou o nosso casamento. Foi o seguinte: eu tinha uma temporada para fazer em Buenos Aires e como nós nos conhecemos muito e ela gosta muito de arte, havia uma exposição de Salvador Dali – da coleção particular dele que ele tem no museu de Figueiras, o museu dele – em Palermo, Buenos Aires, e eu achei que aquilo era algo imperdível, e ela tinha que estar lá, porque ela gosta de arte e gosta dele. Enfim. Naquela época – isso há 22 ou 23 anos atrás – não havia DDI na Argentina. Aqui nós já tínhamos DDI e DDD há muitos anos. Mas lá, você tinha que perguntar na telefônica se tinha demora, e eles diziam “un par de horas, señor”. Isso era para você ligar para o Uruguai, o Uruguai ligar para Porto Alegre e de lá então você fazer o DDD brasileiro. Era terrível! Então, meu pai me ligava praticamente todos os dias, e numa dessas ligações a Cristina estava na casa dele. Eu contei pra ela sobre a exposição e disse “Vem pra cá”, e o meu pai disse “Não vai não”, porque o meu pai é apaixonado por ela e sempre quis esse casamento. Ela era a única mulher que servia para o filho dele. A Cristina é arquiteta de interiores, então ela estava fazendo a minha casa por dentro, decorando tudo. Ela estava com pedreiros, marceneiros e sei lá mais o que lá em casa. Nós ficamos nessa história de “vai não vai” e o meu pai disse “não vai não que ele deve é estar precisando de uma secretária”.

Enfim, ele não me dizia nada, porque ele era confidente dela. Quando ela era pequenininha – com uns 12 anos – falou para ele que era apaixonada por mim e pediu segredo, e ele nunca me contou! Só que ele sabia que ela gostava de mim, que ela era apaixonada por mim. E a coitadinha arranjava namoradas pra mim, aquelas louras de 1,90 m, achando que era aquilo o que eu queria na vida. Coitadinha, ela achava que eu nunca iria olhar para ela, porque ela era baixinha, gordinha. Enfim, eu mandei a passagem comprada para ela, intransferível, então não tinha jeito. Ela pegou o avião e foi para lá. Quando ela chegou lá em Ezeiza, que eu olhei aquela baixinha com um tailleurzinho bege e marrom (nunca mais me esqueço!), e toda aquela minha equipe, com um monte de gente em volta, parecia coisa de astro internacional (o que na verdade era, porque eu estava na Argentina!). Aí, quando eu a vi, eu disse “Será que minha família inteira, pai, mãe, meus filhos (eles me pediam ‘pai, namora a Kika, só um pouquinho, não precisa casar não, só namora’), meus amigos... será que só eu que não vejo isso?”. Aí eu saí correndo com todo mundo, eu dei a cara pra bater mesmo, lá no saguão do aeroporto de Ezeiza. Abracei, beijei e rodei com ela! Parecia coisa de filme. As pessoas aplaudiam! Parecia um filme mesmo.

Nós saímos de lá, e tinha toda aquela coisa de artista quando vai para o exterior, existem certas bobagens que fazem parte do show business. Então tinha limusines, hotéis de 4.000 estrelas...

Nós saímos juntos e fomos para o meu hotel, pra gente jantar lá. O meu diretor de Buenos Aires estava namorando a maior apresentadora de televisão da Argentina, e naquela noite iria estrear um programa dela; fomos todos para a minha suíte no hotel para assistirmos à estréia do programa. Nós assistimos ao programa, e quando ele foi embora, eu fui levar a Cristina para a suíte dela, que era no mesmo andar. Na hora em que eu abri o apartamento e fui dizer boa noite, sapequei-lhe um beijo, peguei-a pela mão, tranquei o apartamento dela e voltamos para a minha suíte.

Nisso, se não desse certo, eu podia perder a minha melhor amiga. Se não tivesse química de pele – como dizia a minha velha – se fosse uma coisa passível de desencantos... Só, que foi uma coisa deslumbrante!

Mas, o momento mais inesquecível foi no dia seguinte. Era um dia muito frio de junho, e eu levei a Cristina lá na Recoleta para nós tomarmos um submarino (submarino é uma caneca de louça refratária com leite muito quente no qual você joga uma barra de chocolate do melhor que você tiver e derrete). No frio isso é muito bom, e lá é um hábito deles). Bom, aí tomando um submarino debaixo daquela figueira centenária na Recoleta, num café elegante, a Cristina olha para mim e diz “Ronnie, eu esperei por esse momento mais de 20 anos da minha vida”. Esse foi o grande momento. Mas, existiram outros tão importantes quanto.

As nossas famílias são muito comportadas, e quando nós voltamos dessa viagem, eles foram para o aeroporto nos esperar com faixa e banda de música. Eu morri de vergonha! Nós ficamos duas horas no free shop, de vergonha de sair, porque a coisa tava feia, aquilo ali era brega. E o pessoal da Polícia Federal me conhece, sabe quem sou eu. Eu disse para eles “Olha, tem vários eletro-eletrônicos que eu trouxe”, que era para eles abrirem a minha mala, para demorar mais! Mas, a pessoa da Polícia Federal percebeu que aquilo era mentira. Imagina que o cara ia comprar bugiganga na Argentina! Ela apertou a luz verde, e nós tivemos que sair.

Só que o que acontece é o seguinte. Numa das missões diplomáticas do meu pai, que foi na Tailândia, ele ganhou do Rei da Tailândia um faqueiro do século 19, e eu sempre fui apaixonado por coisa de casa. O faqueiro é a coisa mais linda do mundo, e lá na Tailândia não pode ter faqueiro com 12 peças porque 12 é um número que não dá sorte. Então é 10, que é o número da roda de Sansar, da roda da fortuna e sei lá mais o que. Os talheres são de ouro 14 quilates, e os cabos são chifres daquele búfalo sagrado deles e em cima tem uma deusa de oito braços, e está escrito Sião, que é o antigo nome da Tailândia; e eu era doido pelo faqueiro, mas o meu pai não me dava de jeito nenhum. Um dia ele me disse “Olha, vou fazer um acordo com você. No dia em que você me disser, Estou namorando certa pessoa, que você deve saber quem é (e eu fingindo que não sabia), eu te dou o faqueiro”. Sabe que quando eu via que ele e a minha velha estavam forçando a barra em relação à Cristina, eu falava pra eles “Vocês querem um incesto né? Ela é minha irmã! Que coisa mais pornográfica na cabeça de vocês”. Bom, aí quando eu estava saindo do aeroporto, ele era o primeiro da fila que estava me esperando, com os olhos arregalados que pareciam dos pires, como se estivesse indagando o que havia acontecido. Eu olhei para ele e disse, “Cadê o meu faqueiro?”, o que era um código nosso. O velho me abraçou, começou a chorar e disse “Agora eu sou um homem completamente feliz”.

Aí nós fomos para a minha casa, porque antes a Cristina morava na Vila Nova, e eu no Jardim Europa. Então eles foram me deixar primeiro para depois levar a Cristina para a casa dela. Aí fomos para casa e os funcionários começaram a tirar todas as malas: as minhas e as da Cristina. A família estava toda junta, e de repente começaram a ir embora, eu procurei, mas não achei mais ninguém. Eu vi toda aquela maluquice e pedi ajuda pro meu filho e pra minha filha pra gente começar a levar as malas da Cristina para o meu carro e pedi “Me ajuda a levar as malas pro carro porque eu vou levar a Kika pra casa dela”. A porta da casa estava trancada, pois só estávamos eu, as crianças, a Kika e os empregados. Os meninos (o meu casal – que na época eram pequenos) pegaram a chave, sacudiram e disseram “daqui ela não sai nunca mais”.

Esses são momentos inesquecíveis, seguramente, fora os outros: maternidade, o filho...

Vocês têm alguma música que seja marcante para vocês? Temos, temos. Georgia on my mind, do Ray Charles, de quem eu tive o privilégio de ser amigo.

O que acontece para que vocês continuem desejando acordar um ao lado do outro todos os dias, mesmo após tantos anos de convivência? Isso é transcendental. Não existe um manual para que você possa fazer isso. Não existe um curso pra isso. Isso é uma maluquice, é um mistério, e isso se chama amor! O amor quando é impessoal, faz com que você queira estar ao lado dessa pessoa, deseje que ela seja feliz, e mesmo que não esteja casado, namorando, você torce por essa pessoa. E foi assim em relação a ela para comigo, até a hora em que nos casamos mesmo. Eu acho que quando o amor é suficientemente forte, você só pensa nisso.

Existe uma palavra ou frase que descreva a Cristina para você? Cristina... descrever a pessoa por quem eu tenho um amor tão grande é muito difícil! Eu posso dizer que ela é a motivação da minha vida!

3 comentários:

  1. Oi Bruna,

    Muito legal o Ronnie hein?
    Tá explicado o lance de ele saber tanto de coisas de mulher, de casa.
    E dei boas risadas.

    Abraços!

    Tonon

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  2. o ronni é demais!!!!!!!!!!!!

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  3. Que maravilha!as musicas do Ronnie Von marcaram minha vida eu estava namorando o meu marido me casei em65 não consigo esquecer faz parte do meu amor saude sucesso sempre seja feliz,bjs sua fã.

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