domingo, 14 de fevereiro de 2010

JANETH ARCAIN (agosto/2008)

Como surgiu o seu interesse pelo basquete? Começou em 83, quando houve um mundial de basquete aqui no Brasil, no Ibirapuera; foi aí que eu decidi começar a jogar. Na época, eu fazia educação física na escola, a minha professora me apoiava bastante, e eu comecei a jogar numa cidade do interior, chamada Catanduva.

Como foi a sua experiência na WNBA, a NBA Feminina? A WNBA aconteceu para mim depois de Atlanta 96. O meu primeiro ano lá foi 97, e a experiência foi muito boa, muito diferente para mim. Eu estava indo para um país onde eu não falava a língua, não conhecia os hábitos das pessoas, do país. Mas, eu tive um grande aprendizado, que foi a vivência, as amizades que eu acabei encontrando, e também jogando basquete: como a gente fala, bola na cesta é igual em qualquer lugar! Eu acabei sendo muito valorizada lá, e isso acabou me fazendo crescer muito, como pessoa e como atleta.

Fale sobre o prêmio de “Jogadora que mais evoluiu” na WNBA em 2001. O prêmio foi uma conseqüência do meu trabalho. Em 2001 eu consegui desempenhar o meu melhor basquetebol – acredito que lá eu estava no auge da minha carreira – e a gente conseguiu esse resultado. Eu acho que tudo isso foi graças, também, à minha dedicação, ao reconhecimento do público e dos jornalistas, e principalmente, das minhas companheiras, sem as quais eu acho que isso não teria acontecido.

As pessoas vêem você como um grande exemplo, pois você simboliza algo muito bom na vida de muitas pessoas. Como é, para você, ser uma pessoa tão querida pelos seus fãs? Eu fico feliz por ser uma pessoa que representa tudo aquilo que fez pela sua modalidade, no caso o basquetebol, por ser uma pessoa batalhadora e ver resultados positivos; eu fico muito feliz de hoje ser um espelho para muitos jovens e crianças, que um dia chegarão aonde eu cheguei, e até mesmo serão como eu sou. Isso é muito bonito e muito gostoso, e eu me sinto realizada. Isso faz com que eu continue trabalhando – agora fora das quadras – para que esses jovens possam alcançar seus objetivos e realizar seus sonhos.

Conte-nos um pouco sobre o projeto do “Instituto Janeth Arcain”: O meu projeto começou em 5 de fevereiro de 2002, e a cada ano cresce mais. Nós, na verdade, abrimos o Instituto com o intuito de dar oportunidade a esses jovens e crianças, de poder sonhar, acreditar, ultrapassar limites, superar barreiras, alcançar objetivos, ter convívio entre amigos, superação, e, principalmente, conseguir envolver a família toda, a comunidade toda, a fim de que todos tenham benefícios com esse trabalho. Até mesmo aqueles que não chegarão a ser atletas de alto nível, pelo menos terão um esporte como algo saudável para que também possam fazer disso um hábito no dia-a-dia, que é onde entra a qualidade de vida melhor. Nós queremos plantar uma sementinha no coração daqueles que batalham, e que não chegarão a ser jogadores de basquete, mas que terão dentro de si o espírito da competitividade, a superação em tudo quanto é ramo de atividade na vida que terão. Em compensação, aqueles que chegarem a ser atletas, irão lembrar que um dia alguém deu uma oportunidade a eles, e que eles conseguiram alcançar seus objetivos.

Como você vê o apoio ao esporte no Brasil atualmente? Antes era muito bom, depois passamos por uma fase muito difícil onde o incentivo era muito pouco – aliás, ele continua sendo pouco. Mas agora, com as leis de incentivo fiscal, eu creio que as coisas melhorarão. É claro que você precisa ter pessoas realmente capacitadas, pessoas que queiram realmente ajudar, e não se beneficiar individualmente; eu acredito que o esporte pode melhorar muito, desde que haja incentivo, credibilidade (tanto das autoridades como dos governos municipal, estadual e federal) a fim de que possamos chegar aonde as grandes potências mundiais chegaram. Nós acreditamos que é através do incentivo que tudo isso poderá acontecer.

Qual foi a sensação de participar dos jogos pan-americanos pela última vez em 2007, quando você se despediu das quadras? A sensação é única. Nós passamos momentos que realmente, só quando você está lá, você consegue sentir. Às vezes, não dá nem para descrever a sensação, mas aquele foi um momento marcante na minha vida, ao lado do meu público, do povo que sempre me apoiou, que sempre acreditou em mim, sempre esteve comigo em todos os momentos – fossem eles alegres ou não – e isso vai ficar marcado em mim para o resto da minha vida. Por isso eu quis essa oportunidade de me despedir nos jogos pan-americanos do Rio de Janeiro, e deixar essa lembrança boa a todas essas pessoas que sempre me acompanharam, e até mesmo para aquelas que nunca foram favoráveis ao meu trabalho.

O que você gosta de fazer quando não está envolvida com o seu trabalho? Eu gosto de passear, ir ao cinema, ao shopping, ao supermercado, ficar em casa e “viajar” na Internet. Eu gosto muito de computador!

Você já tem algum projeto ou plano para o futuro? Os projetos que eu tenho são todos relacionados ao Instituto. Nós queremos expandir cada vez mais, a fim de beneficiar jovens de outras regiões e que a gente leve essa igualdade que o esporte oferece a todas essas crianças e essas famílias. Pessoal, eu quero, com o tempo, desfrutar das coisas que eu já conquistei, com viagens, descanso, e até mesmo assistindo a jogos de basquetebol.

Por que você veio para Santo André? Eu me fiz Andreense, mas não sou andreense. Vim para cá há uns 17 anos, então eu me sinto andreense, e me dei muito bem na cidade. A cidade me acolheu muito bem e eu acho que isso acabou fazendo da gente um “casamento” muito bom!

Você poderia deixar uma mensagem para os jovens que ainda estão ingressando – ou pretendem ingressar – no mundo dos esportes? A mensagem que eu deixo é que quando você acredita, quando você luta e trabalha pelos seus objetivos, você os acaba alcançando. Que a dedicação e a alegria estejam sempre presentes em tudo o que eles estejam fazendo.

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